UM TRABALHO CONCEITUAL
(...) (...) Há um uso da loucura como representação da realidade, e não a própria realidade. Outras realidades só serão percebidas (ou criadas) com o uso de novos conceitos. Os velhos estão colados a instituições como as do eu, do indivíduo, do especialista e claro, da saúde mental. São estéreis; servem ao empreendimento burguês de usar a racionalidade como base do progresso tecnológico e científico. Portanto, abrir os conceitos, mesmo os antigos, é rearranjá-los em territórios subjetivos. A forma saúde-mental não deixará de existir nesse tipo de estratégia, mas a sua força diminuirá.O que o paciente costuma querer é o que quer a saúde mental: o controle e o auto-controle, se possível. A prerrogativa vem da instituição psiquiátrica, o que não significa pôr a psiquiatria como alvo único da crítica. Até porque a psiquiatria não traz problema algum ao trabalho conceitual que lhe seja adverso. Ela desconhece o conceito e por isso não pensa, só representa.
(...)
A.M.
Nada melhor do que uma veia Rodrigueana para fugir de abstrações vazias geradas, em algumas ocasiões, por insatisfações filosóficas. Aí vai: "Com os novos tempos, as coisas mudaram. A máxima potência dos nossos dias é a INFORMAÇÃO. As quatro paredes sumiram até o último vestígio. Vocês entendem? Vivemos, morremos e amamos na via pública, como cães vadios. Nunca houve alcova para cães. E o pior é que nós também perdemos a nossa. Vejam a Índia. Há sujeitos que nunca tiveram um teto, uma mesa, uma cama. Perguntarão os IDIOTAS DA OBJETIVIDADE: 'E onde moram?' Simplesmente não moram. Ou por outra, vamos imaginar que uma cidade na Índia tenha um escada pública e então o sujeito reside num dos degraus com a mulher e os filhos que vai fazendo. Os IDIOTAS DA OBJETIVIDADE insistem: 'E comem?' Talvez nem isso. E repito: fazem filhos, o que, para os miseráveis, não deixa de ser uma compensação reparadora. (...)"
ResponderExcluir(...) "MAL COMPARANDO, É O QUE ACONTECE COM TODO MUNDO. Estamos tão indefesos, tão expostos, como se residíssemos também num degrau. Comemos o bife (ou filé mignon) que falta aos desgraçados da Índia. Mas os nossos atos, sentimentos, fragilidades, toda nossa vida perdeu aquela película protetora de mistério e pudor." (Nelson Rodrigues)
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ResponderExcluirCOMEMOS O BIFE QUE FALTA AOS DESGRAÇADOS DA ÍNDIA... Não sou a favor da compaixão, nem contra a compaixão. Mas, sei perfeitamente que quem pensa na compaixão de uma forma nietzschiana está comendo o filé mignon que falta aos indianos.
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