O ENCONTRO REAL
Quando se
diz "relações interpessoais", está implícito o conceito de
"pessoa humana", de origem intrínsecamente cristã. No entanto, ao se
pensar o encontro entre duas pessoas, é possível agenciar o Encontro entre
multiplicidades, aquele que remete ao movimento dos corpos (visíveis e
invisíveis) enfiados no livre fluxo dos acontecimentos. Trata-se de uma torção
do discurso, um desvio da fala banal em prol dos afetos e da potência de ser
afetado. Silêncio! A chamada pessoa já não se sustenta, já não recolhe energia
de uma suposta unidade de ação (o eu, a consciência...), exceto se estiver sob
a égide dos códigos estabelecidos em dispositivos de controles
tecno-burocráticos ou de despotismos morais. De todo modo, o Encontro real é
composto por linhas de singularização que se ligam umas às outras, constroem
territórios afetivos e ficam à espreita... Então, a coisa é assim: cada pessoa
não é una, não é
uniforme, mas múltipla, multiplicada e multiplicante por "n" mil.
Seja o objeto de uma paixão. Não é o objeto o que importa ou o que faz
funcionar o mundo e o universo, não é o que encanta e faz renascer a
realidade a cada segundo, mas os signos que são enviados por
ele (sem cessar) para o amante. Tampouco este é "uma pessoa", mas uma
multiplicidade de linhas afetivas movidas à alegria em viagens de perdição. É o
segredo revelado no cerne do Encontro real entre o Amante e o Objeto da sua
paixão. Tudo passa, pois, pelos signos e pela força de sua expressão livre nos
cantos e encantos de uma natureza impassível e esplendorosa. É a arte do
encontro, um alumbramento.
A.M.
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