terça-feira, 8 de novembro de 2011

Transtornos da personalidade: problemas

Retornemos ao borderline: ele pode ser  considerado  como a instabilidade    em pessoa  concretizada em impulsos violentos e tão surpreendentes quanto danosos ao outro. Os afetos  parecem vir em estágio bruto e  numa corredeira  sem freios.   O encontro  é com um  chão movente.  Não há um  ou mais  problemas, mas  uma    problematização    contínua. Não se trata de um mero jogo de palavras. É toda a  inserção no mundo, e mais, o seu mundo constituído que   é o da instabilidade afetiva. Ao falar de si num tom de passado e no fulcro das relações afetivas,   fica evidente  o  dado assombroso que é o da inexistência  de   um território   onde enganchar a relação pessoal, um vínculo. Um vazio brutal  lhe constitui. Um paciente afundado na   solidão? Não é possível    vê-lo desse modo,  pois seria  fincar a estaca da   moldura humanista sobre  uma alma em desgoverno.  O encontro com a loucura não é um exame das funções psíquicas nem  do comportamento observável.  O encontro é um devir,  aquilo   que   tenta  captar do paciente fluxos do desejo.   O paciente não se reduz ao eu, ainda que este esteja  preservado. Ele consegue falar, dizer como está, conversar.  Seu corpo oscila entre uma inexpressão   e  uma  expressividade dramática. Contudo, a  dramaticidade não é  “fingida”.   Assume seu discurso com se fosse ele próprio levado por uma onda de emoção. Adiante, sem que se  lhe estimule,  estanca o ritmo e se faz imóvel numa atitude que suscita dúvidas.   Elas   oscilam  entre o que    diz    de si e o que se esconde em dobras   subjetivas opacas. O borderline  é um ser errante de difícil ajuda  pelo   aparelho biomédico.  Talvez   seja  usado algum remédio químico. Aí ele se curva  para além das dobras  a  que aludimos. Torna-se  paciente de um cansaço  adicional  (a sedação)  ante    saídas   difíceis   da problemática. 

Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

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