sábado, 31 de março de 2012

INVENTAR  UMA  CLÍNICA  EM  PSICOPATOLOGIA

Em geral, o psiquiatra tem  à sua  frente o “movimento”  e só  consegue  ver  a forma estática e a  matéria  sólida.   Claro, foi  treinado   para isso.  Falamos de  outra  coisa, a clínica  in vivo, o  trabalho   com a  matéria invisível,   o meio  do qual  o    paciente faz parte,  a ausência  de coordenadas  espaço-temporais  estáveis. O  eu  é uma delas.   Quem  você  é  ?  Isso  vale   para  o psiquiatra  seguro  da (sua)  verdade. A incerteza do  eu  e  das  crenças  básicas  precede  o  Encontro.   Não  há   clichês. O  paciente   não  tem forma.  Seu  desejo  não  tem  forma.  Ele age  como  produção de universos móveis.  Isso é difícil  de  aceitar. Como   encontrar  o paciente pela via  da multiplicidade? Como acessá-lo de  um modo  diferente  do  da psiquiatria  biológica e farmacológica? Parece quase impossível ou  talvez algo  delirante para  os  que  estão presos à   grade da CID-10.    Encontrar o paciente é encontrar  a si  mesmo. Esta seria     uma   fórmula   estéril  se  estivesse   atada  à  visão  do   eu  como  interioridade  psíquica.   Contudo, trata-se de  outra  coisa.  Buscamos      sair  de nós    mediante uma   exposição  aos  signos  do  mundo. “Você    traz  novidades que  me  fazem ser    diferente”.   É   uma  base  para    o tratamento,  são      potências   a  serem  descobertas  no paciente e no psiquiatra.  O    paciente,   apesar  de  codificado   pela  psiquiatria,  funciona  em  linhas  da   diferença  que vazam. A   forma  dada,  estática,  no fim  das  contas,   é  efeito  do  poder  médico. Isso   dificulta  uma   prática em direção a  expressões  novas. Sendo assim,  o exame da mente para encontrar a mente  terá    que  se   transformar   numa produção/intuição  de  multiplicidades. Não  mais    haveria   exame  mental  porque  a “mente” não  é  algo  visível. E o que  seria  examinado  (ou  encontrado)?
Devires.  Eles    compõem   processos  do  desejo  e    articulam   crenças. Deste modo,  afetos e  crenças    desarranjam  a  máquina  dos  sintomas-fármacos (...)

Antonio Moura    

2 comentários:

  1. Que potência!!!! http://www.youtube.com/watch?v=8U3-cC7BMg8&feature=related

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  2. Quantas vezes não vemos o simplismo do enquadramento médico-institucional negar os sentimentos e a dimensão humana (esta, a principal) da relação com o paciente, não é mesmo?

    Abraços!

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