quarta-feira, 28 de março de 2012

O CONSUMO DA  SERVIDÃO

Uma compreensão da subjetividade a partir do funcionamento cerebral não é um erro. É tão só uma visão  incompleta e reducionista da realidade psíquica. Mais: pelo lugar de poder que a psiquiatria ocupa,  isso se  transforma em dano sobre o paciente. Na área obscura do biopoder, o paciente  é fabricado como organismo que consome verdades prontas. Tome esse comprimido: é para o seu bem.  A engrenagem semiótica,  para  funcionar e funcionar  bem (asséptica e sem travamentos),  conta com a adesão inconsciente de segmentos sociais  "bem intencionados" em suas respectivas  subjetivações. Um padre, um juiz, um delegado, um burocrata, um pastor, um empresário, um diretor de RH, um médico, um professor, uma mãe,  entre outros, são personagens sociais que caucionam o desejo de ordem e de harmonia.  Alguém que ouse quebrar esse circuito, arrisca-se a mergulhar nas  trevas do Indiferenciado: a  insânia. 

A. M.

2 comentários:

  1. Voc~es estão incomodados. Eu sei. E me perguntam: "Me Encontrei com a psicanálise. Que mal tem isso?" Não há nenhum mal. É que não está em jogo O SEU ENCONTRO. Em primeiro lugar, Psicologia não é Igreja Universal, apesar de se parecer muito na prática, o que é triste. Em segundo, a psicanálise é uma INSTITUIÇÃO. Tem uma história, tem um sistema, tem modos de operação característicos, herméticos, fechados. As teorias DEVERIAM ser meros INSTRUMENTOS. Um arcabouço de uso. Não precisa se dizer psicanalista, encher a boca de baba e se sentir melhor do que os outros. Foi um bom Encontro? Ótimo, mas esteja aberto. O problema da psicanálise é justamente esse: é difícil Encontrá-la e permanecer aberto. Digo mais: é um contrassenso. É próprio da psicanálise que você assuma uma engrenagem e leia o paciente a partir do Édipo, castração, etc., a partir de seus códigos próprios. Lembre-se: o foco não é você. O foco é o paciente. E o paciente é múltiplo. Você pode ajudar o paciente com as coisas boas que a psicanálise lhe trouxe, mas não tornando-se um psicanalista. E somente isso. Além de ser uma limitação própria, enquadra-se o paciente. O paciente emite signos, desequilibra o terapeuta. Se ele não souber dançar, fará o que? Ficará dentro do papel burocrático do divã? Encaminhará o paciente para outro, a pretexto de um falso humanismo ético? Está na cara que não tem sentido isso. Agora, do seu ponto de vista próprio, fique tranquilo. Se você virar um psicanalista de sucesso, como um Contardo Calligaris, ficará rico, terá um prestígio de saber, escreverá como colunista dos jornais, terá facilidade para publicar seus livros, em suma, não estará sozinho. Terá consigo uma sucessão de "companheiros" ou "súditos" que partilham da mesma seita. Comerá o bolo às 17h, como Freud o fazia. E transará com a esposa sempre papai-mamãe, totalmente descontente, mas passando uma imagem exterior de autorealização e um contentamento pessimista: "a vida é assim". Esse a "vida é assim" é clássico. Escuto dos psicanalistas desde que era aluno. É o rochedo da castração. Aceitem! Aceitem tudo! No fim das contas, o conforto da SUA ESCOLHA é o que vale para o mundo não ir pra frente. É a mesma lógica de quem só combate o traficante, como o demônio. E, você, burguês, que vai lá buscar a droga? Não, não estou culpando você. Só estou dizendo que a vida do traficante não é mais fácil do que a sua. Ele morre cedo. Quanto a você, todos ficarão na expectativa. Tem uns que duram até bastante...

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  2. Mas, não estou nem aí pra isso. Somente me preocupo com o paciente. Fico com raiva somente na medida que atinge, esmaga, engana o paciente. Porém, isso não me deixa triste. Muitas vezes o paciente procura isso. É uma discussão complexa. Tento fazer o meu melhor e fico tranquilo quanto ao trabalho que realizo na clínica. O que me deixa triste mesmo é a morte de Millor. Chico Anysio já se foi. Agora fiquei sabendo da morte de Millor. Só mais uma pergunta irônica: "Millor diagnosticava?"

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