sábado, 31 de março de 2012

POESIA

A linguagem poética fere  de  morte  o princípio de identidade do discurso inteligível da  técnica. É isso mesmo. Uma   experiência-limite não precisa de palavras. Isso desconcerta a clínica do cérebro. Esta,   busca   neuro-lugares e pontos  fixos.  Cortem  aqui. Cortem ali.   A representação do Mesmo   é   batata. Abram   alguns  cérebros e lá estará  o rigor mortis. Enfim, um método infalível. Ele    gargalha  sobre a última  fronteira. Que  se passa?   Ainda  bem:  há  poesia injetada em   agulhas  finas.  A linguagem    desliza: criança, poeta, louco, vidente, artista, a  tralha  dos sem-eu, todos   descem    pelo conta-gotas da  resposta aos  sintomas. Não  há  como  se  explicar  aos  cientistas.  O tecido poético cria  muito antes  da medição dos contornos da hipófise. É matriz e argamassa  das  construções exatas    sobre  o funcionamento dos neurônios do baixo clero. Precisamos  de mais poesia, mais,   até  saturar os átomos  da  cabeça pensante. No entanto,  o pesquisador acadêmico enuncia  o veredicto das  horas perdidas  em conversas tolas. A condenação dirige o condenado às  labaredas do inferno das  psicoses, dos  retardos e das  demências  irreversíveis. Toca  o horror da  patologia,   limpa a mesa cirúrgica com estabilizadores  do humor.Assim fica  fácil  destruir subjetividades  em nome da ciência. Sem metáfora.

A. M.

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