NEM SUJEITO NEM OBJETO: O TEMPO
O tempo não é um todo, pela simples razão de ser a instância que impede o todo. O mundo não tem conteúdos significantes pelos quais se poderia sistematizá-lo, nem significações ideais, pelas quais se poderia ordená-lo, hierarquizá-lo. Tampouco o sujeito possui uma cadeia associativa que possa contornar o mundo ou conferir-lhe unidade. Voltar-se para o sujeito não é mais proveitoso do que observar o objeto: o "interpretar" anula tanto um quanto o outro (...)
G. Deleuze- do livro Proust e os signos
O "ser" se confunde com "fazer" na medida em que não se apreende alguém ou algo integralmente. "Sou psicólogo" pode ser lido como "faço Psicologia". "Ser não-sendo" ou "Não-ser sendo" é uma via complicada de discussão. Paradoxo cabe em circunstâncias artísticas, mas atuação profissional é outra coisa. Entenda: isso não quer dizer que não caiba arte na atuação profissional. Quero dizer: "Ou você é psiquiatra, ou você não é; ou você é psicólogo, ou não é." Concordo plenamente com aquela assertiva do senso comum que diz VOCÊ É AQUILO QUE VOCÊ FAZ. Nenhum psicanalista concordaria com isso. Entrariam com a teoria hermética do inconsciente deles. Lacan. Prefiro assumir, humildemente, que não alcanço uma percepção total de alguém. A maneira de perceber alguém é pelas suas ações. É interpretando suas ações, sim. Não quero dizer que toda interpretação é necessariamente precisa ou integralmente verdadeira. Há sempre raspagens de imprecisões, margens de erro. Agora, não venha me dizer que alguém que diagnostica e prescreve um psicofármaco não está fazendo psiquiatria... por favor.
ResponderExcluir"Ser-fazer" permite uma condição de diferenciação, mas somente na medida que existe um parâmetro, e o primeiro parâmetro é o exercício. Portanto, "fazer Psicologia" não quer dizer muita coisa, pode ser sinônimo de "fazer MERDA". Pelo menos, é melhor do que o simples exercer, sem participação crítica, preocupação com o paciente, etc. Porque a MERDA pode ser limpa, o erro pode ser consertado. O "fazer" não é necessariamente uma criação, e sim um signo de condição para ela. Nesse caso, "fazer Psiquiatria", "ser psiquiatra", pode ser perfeitamente uma forma camuflada, disfarçada do simples "exercer" - nosso alvo de crítica. Por isso, ligar-se sempre à prática, e não aos meros discursos. Quando as coisas ficarem muito imprecisas, apegue-se à ROSTIDADE.
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