segunda-feira, 19 de março de 2012

 O NÃO-EU

Usamos o conceito de vivência articulado aos problemas da clínica psicopatológica. Esta  se compõe de linhas do desejo (afetos) e linhas do pensamento (crenças). Assim, o paciente, antes  de tudo,  sente e   acredita. Sua  vivência observada na clínica não é  A vivência, mas uma vivência ou vivências que  se expressam em signos  nem sempre significantes. Tal perspectiva faz do exame  psíquico um Encontro, podendo este ser  bom ou mau  a depender dos afetos e das crenças postos  em jogo. Isso  requer  do técnico entrar em contato muitas  vezes com um mundo que  compreende algo incompreensível à consciência. Afeto e pensamento, desejos e crenças são territórios existenciais que  fazem viver. As vivências  são singularidades. O Incompreensível (“por que  ele  quer morrer”? ou “ele acredita nisso?”, etc) não remete  a uma doença ou transtorno (o  que dá no mesmo), mas antes  a   processos de vida que se expandem em linhas  arriscadas  e concretas. Considerar desse modo as vivências implica  em situar o paciente para  além do eu e  substitui-lo pela vivência não médica, não psicológica, não humanizada. Ele  vive o acaso, o desconhecido e o indeterminado, ainda  que em pedaços e  fora  da consciência. Tudo isso pode  ser intuído na expressão plural dos sintomas. Não há  quadro psicopatológico estável, essencial, natural ou definitivo.Os afetos preenchem as crenças e as crenças  expressam os afetos. Muitos  afetos, bem como muitas  crenças, não são classificáveis, não remetem a um código. Outros prevalecem no perfil de determinada síndrome, até  parecendo ser  exclusivos, como nos caso das depressões. Ora,  o exame  do paciente costuma ser mediado por  subjetivações  psiquiátricas e psicológicas encardidas em seu organismo... A tarefa do Encontro passa  a ser  então trair a semiologia instituída (...)

Antonio Moura                               

Nenhum comentário:

Postar um comentário