ENLOUQUECER PARA NÃO ADOECER
A tão falada (confira no texto da Reforma Psiquiátrica) "superação' do modelo hospitalocêntrico (caso dos Caps como alternativa - há mais de 1600 no Brasil) passa, no mínimo, por dois níveis de ação: 1-gestão das políticas públicas enfocando o paciente (usuário) antes da doença (ou transtorno); melhor dizendo, a ética vindo antes da política; 2- Uma efetiva transdisciplinaridade da clínica no âmbito das ações da equipe técnica; ou seja, fim das hierarquias grupais. Sabemos que os dois níveis não foram atingidos, talvez nem sequer pensados por quem deveria. Os Caps não passam de ambulatórios e/ou hospícios disfarçados, não tão bem disfarçados... As exceções são pouquíssimas.
A. M.
Não há comparações. Há diferenças. A diferença é a seguinte: "assumo para o paciente que precisamos descobrir o que melhorar". Isto é: criar a terapia. A terapia não é prévia, ela é criada. Acontece que há uma névoa de mentira por aí. "Terapeutas gurus" que, a pretexto da sua escolha teórica, cometem várias besteiras que chegam aos nossos ouvidos. O discurso de engajamento em uma teoria seduz o aluno novo, porque ele é inseguro, recém-chegado no mercado de trabalho. Aí, os professores começam a "recrutar" para fortalecer seus "clãs" desde o período de Faculdade. Ou seja, o paciente não é o essencial.
ResponderExcluirO cadastramento dos sintomas é importante sim, não nego isso. O ruim é o diagnóstico e o seu uso. Tudo funciona como no serviço público: leve tais e tais documentos, nós carimbamos e direcionamos. É que os discursos são subjetivos e sutis, como é o caso da psicanálise, onde se fala no tempo lógico, nas fantasias, Grande Outro, e, além disso, o psicanalista fala com propriedade sobre o assunto. E, a pompa com a propriedade convence muita gente. A erudição também. Sabemos que há várias estratégias de seduzir. Não é uma questão paranóide. É um problema de mundo: AS PESSOAS NÃO MELHORAM. Vaidade, todos temos as nossas. Mas, está errado! Claro que o paciente vai enunciar sua melhora, vai subjetivar aquilo que lhe dizem, pois é uma relação de dominação e sujeição! Muitos pacientes precisam disso. A sociedade prepara os pacientes para pedirem isso. Por isso, muitos não sustentam uma terapia fora deste esquema. Recentemente, recebi a ligação de outro paciente novo. Ele me fez duas perguntas: um, quanto eu cobrava; dois, qual é a minha orientação teórica. No fim, disse ser BIPOLAR. Então, a terapia já começa enviesada. Fica difícil trabalhar assim. Sinceramente, acredito ser o único. Acredito mesmo. Por isso é que me digo Blade Runner: um terapeuta que vale por um exército, apesar do alto custo de solidão, melancolia, tédio e sofrimento. Mesmo os esquizoanalistas! Não chegam a esse nível de radicalidade! Não chegam! Por exemplo, respondi ao rapaz: "Cobro dentro da realidade brasileira e da proporcionalidade. Não cobrarei de quem ganha um salário mínimo o mesmo valor de um funcionário público federal. E outra: na entrevista, discutimos isso. Não cobro a entrevista porque é o momento de uma avaliação rápida para ver se tenho condições de aocmpanhá-lo." Pergunte se ligou de novo. Não ligou. Insistiu: "Mas você é ANALISTA, não é?" Disse-lhe: "Não, não sou." Ele: "É o que?" Respondi: "Sou psicólogo. Não tenho teoria." As teorias viraram partidos!!!! E vocês concordam com isso????? Fico indignado, acho um absurdo. Estou fora. Ou trabalho na clínica desse jeito, ou, como estou fazendo, vou buscar outra coisa e tocar a vida. Ficar enganando os outros e o mundo se fodendo, sinceramente, isso não é pra mim. Parabéns para vocês, "bons caras de esporte fino"! Montem um setting exorbitante, cheguem de carro morando a duas quadras do consultório, fumem um charuto na sessão e vomitem todo o conhecimento que vocês têm! E continuem enchendo o bucho de grana!
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