sexta-feira, 30 de março de 2012

DEZ    ERROS   SOBRE    A ESQUIZOFRENIA

Erro 8-Considerar  de antemão que  o esquizofrênico está fora  da realidade.
Causas: crença inabalável  da  psiquiatria   nos  códigos  sociais  vigentes (conservadorismo);    adesão política  a uma  realidade  única e  verdadeira, a  Realidade  Dominante, desconsiderando as outras  realidades.

A.M.

Um comentário:

  1. Existe, e chegou a hora de falar disso, uma diferença entre “exercer” e “fazer”. “Exercer” é um verbo de competência, educação formal, é um verbo autorizante. Você, com a carteira do CRP, está autorizado a praticar atos equivalentes à sua carreira de psicólogo. Você, com sua carteira do CREMEB, está autorizado a praticar atos equivalentes à sua carreira psiquiátrica. De outro lado, “fazer” é um verbo ligado à prática. A prática prescinde de regulação e de fato não deve ter regulação. A fiscalização dos erros, a discussão de penalidades, a cassação da carteira, etc., etc., são fatores ligados ao exercício profissional, e não ao fazer. Portanto, a pergunta do cotidiano “O que você faz?” é o caso de ser respondida com “Exerço a Psicologia.”. Trata-se de um ato meramente formal. Em sentido material, o “fazer” abre margem a uma criação. O equívoco que tanto crítico reside no fato de que os profissionais “psi” em geral colocam o exercício no lugar do fazer, fazendo deste “fazer” um instrumento técnico-burocrático, onde não se faz uma diferença consistente entre a prática de um profissional ou outro. São padrões, padrões em comum. Isso ocorre devido a vários fatores, mas, um deles e essencial, é o exercício de poder sobre o paciente. Porque, se você se filia a uma prática instituída, no fundo no fundo, leia-se: estou acima de você. Há uma hierarquia ancorada originalmente numa aliança de poder-saber reconhecida socialmente. São grupos instituídos que fazem parte desta corrente ou daquela, e isso serve de território para a submissão do paciente. No fundo no fundo, você está se aproveitando da vulnerabilidade dele: “Venha a mim que eu tenho meios para te curar.” Essa razão gera uma discussão longínqua, mas seu cerne principal é a manutenção da estrutura capitalista. Faça uma analogia com o trânsito. Não estou pregando o socialismo, mas é completamente dedutível o fato de que a qualidade dos transportes coletivos demonstra a estratificação social. Ou seja, o que está em jogo é o fato de que você, dono do seu automóvel individual, resolve não lutar por um transporte coletivo melhor, ainda que você concorde que eles devem ser melhores, porque você tem seu carro próprio; e mais ainda: isso lhe permite uma superioridade. Se o carro for maior e importado, outra zona de superioridade. Se você tem dois carros importados, uma outra. E por aí vai. Segue-se substratos de camadas de estratificação social. Esse mesmo raciocínio pode ser transferido para os ramos do saber. Se você é formado em Psicologia, é uma coisa. Pelo menos, é melhor do que não ser formado. Se você tem especialização, outra; mestrado e doutorado, outra. Entende? Então, o que seria viável no contexto da aplicabilidade das técnicas psi a favor do paciente? Seria o caso de dizer: “sou psicólogo, mas tenho uma formação em psicanálise”. É totalmente diferente de dizer: “sou psicanalista”. Perceba a sutileza da enunciação. Ser psicanalista, psicodramatista, behaviorista, etc., etc., é se colocar num rol diferente do da formação, é pegar o carro próprio ao invés de melhorar o transporte coletivo. Numa prática diferente e única, em primeiro lugar, conversa-se sobre isso na entrevista. O paciente ligou e perguntou: “Qual é a sua abordagem?” Conversa-se na entrevista. Ela não deve ser cobrada, pois é condição de acordo, e ninguém cobra condição de acordo. Cobra-se contrato. O contrato é firmado lá. Está errado cobrar a entrevista, mas todos cobram – menos eu, que eu conheça. Na entrevista, dizer ao paciente: “Tenho formação em psicanálise...” Em seja lá o que for. Você pode ser o melhor do mundo, mas fale da sua formação enquanto “formação”, não enquanto partido, porque, na situação contrária, a terapia já começa mal. Se o paciente já está todo catalogado, seja socialmente, pela família, ou qualquer outra coisa em termos de vivência, você já começa entupindo ele com mais uma levada. E pior: ele acredita que você irá salvá-lo.

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