NÃO HÁ FALTA
Tinha saído de uma longa bebedeira, durante a qual perdi um emprego mixa, o meu quarto e (talvez) a cabeça. Depois de passar a noite dormindo num beco, vomitei no sol, esperei cinco minutos e aí então acabei com o resto da garrafa de vinho que achei no bolso do paletó. Comecei a andar pela cidade, assim, ao léu. Enquanto caminhava, me veio a sensação de que estava percebendo, em parte, o sentido das coisas. Claro que não estava. Mas ficar lá parado, no beco, não resolvia nada.
Andei bastante, com pouca lucidez. Considerei vagamente, a fascinante possibilidade de morrer de fome. Só queria encontrar um lugar pra deitar e ficar esperando. Não sentia nenhum rancor contra a sociedade porque não fazia parte dela. Há muito tempo que já tinha me conformado com esse fato.
(...)
C. Bukowski - do livro Fabulário geral do delírio cotidiano
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