quinta-feira, 1 de novembro de 2012


CRÍTICA

A crítica  acabou. Ela resvala em superfícies  duras e infensas às ondas, mesmo fortes. Uma volúpia pela imagem descarnada assalta espíritos simplórios. Veja. Ouvi do estudante um comentário choroso. Falava da depressão anoréxica.  Tratava-se de um famélico. O pensamento parecia  uma  coisa à toa que aterrissava plácido nas maçãs  do rosto. Uma origem: a crítica  com ares de simpatia misturada à burrice dos espaços em branco. O ideal asséptico a todo furor. Nuvens de arrebentação. Os devires passam rente  às lixeiras no subsolo das mentes por demais  ocupadas consigo mesmas. Não concorde  com tudo.Finja  que  sim. Finja que  pensa. Acione dois  ou três dendritos e avise a certos neurônios que você tem algo a dizer. Não diga. Assuma o negativismo dos psicóticos incuráveis. Beije a mão do general e do papa travestidos de médicos. Eles compreenderão a sua humildade. A crítica  direta é pura  simulação. Não ofende, não corta, não faz explodir. Contenha-se em sua inferioridade geneticamente instituída. Repita as frases, repita ao ponto de uma halitose civilizada se misturar ao formol dos cadáveres encaixotados em pets. Enfim, criticar é preciso desde que não se critique. Ou que a crítica  seja um signo do horror político mostrado como ciência e  salvação. Depois de tudo, arrisque um palpite, faça uma  fezinha na loteria acadêmica. A mesma que abastece os exércitos pregando a paz no oriente médio. Experimente pensar.

A.M.

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