sábado, 2 de fevereiro de 2013


LA MÁQUINA

A máquina psi  avança,  devora e  submete os  que  passam e  os que  não. Logro democrático.  Há  para  todos. Até as múmias se excitam. La  máquina produz o Vazio preenchido pelo desejo de ser. Ser alguém, quem não quis, quem não quer? Psicanalistas  recitam o verbo da carne  extinta. Exumam cadáveres gordos. Ora, não mais se trata de um regime paranóico de produção de subjetividades em série.Nem da morte. Outro estágio de dominação sorrateiramente se insinua no coração das mentes, sejam cultas como as da academia, sejam as dos estratos sociais “desfavorecidos”. La máquina não tem rosto. São todos os rostos amalgamados em séries  perpétuas no melhor dos  mundos. Amai  a família e  serás salvo. É o que  lhes resta. Mas um bilhão de famintos do  planeta Terra   no olho da cobra assassina,  assombra  os mais apáticos,   os mais  cínicos, até a Memória  encardida.  Por que  psi? Demasiado cedo, a verdade  dos afetos  jaz em íntimas profundezas . A natureza  passa a ser  uma Coisa-mãe separada em definitivo   de  nós.  Uma indústria aqui, acolá, todo o tempo, compõe as conexões com o mundo. Naturalizar o  artifício para  que a brutalidade seja aceita como uma carícia. O tempo corre e escorre sobre corpos mal dormidos nas estações. Então, psiquiatras entram em cena. Neurologizados e corporativos, buscam o quinhão perdido na esquina da história. Mas não agem.  São agidos por  agências  internacionais e adoram vestir de preto o tempo. Têm  alergia  à   diferença. De perto a legião de imitadores usa o dom de imitar estilos arcaicos de existir.E o paciente?  Bem, ele  é feito e tratado  à sutileza  dos magarefes.  Todos  se unem quando se trata  de barrar a loucura. Mesmo os mais  bem intencionados, os  cultos, os  do Bem, os  da academia;   toda  a tralha conscienciosa embuida  dos princípios  do cristianismo. Esta é a condição. A máquina psi avança naturalmente  nas  organizações do capital. Ninguém diz  nada. O silêncio se  avulta de cinismos sofisticados. Ele conhece as linhas  ocultas do sistema  monstruoso. O terror econômico perde para  o ético. O  palavrão (ético) converteu-se  em mercadoria santa.Por toda  a parte  o Estado  regurgita matérias não comestíveis. A máquina psi recebe comensais  de luxo para  o banquete das  auroras  perdidas. Alguém passa mal. Quem? Levem-no ao laboratório das almas pet. Laudo médico: encontram-se imagens do infeliz vegetando entre florestas que nunca existiram. Não aproveitou o banquete, não riu das  criaturas  da noite. Foi excluído. Então, como fazer  para  não viver morrendo entre os escombros autorizados  por decretos estatais?  Militamos  por  uma idéia de múltiplas vidas  se ligando em direção  ao sentido  dos paradoxos.  Deleuze é  um intercessor que serve  de  linha  do destino, perigosa e  rápida enquanto a polícia do estado e do  mercado batem à  porta. Urge a camuflagem  do cotidiano como porta  aberta  para  o infinito. Castañeda, Miller, Prigogine, Guattari, Nelson Rodrigues, Klossowski, Millor,Lovecraft, Poe, Foucault e muitos  outros, aceleram o processo, produzem a produção, escarnecem  o  Velho.  Tentar vestir auroras ensolaradas no Brasil? A máquina psi, como sede da  corregedoria do Real, breca  a saída da  porta do infinito. No entanto, tornar-se concreto  em práticas  cruéis é uma possibilidade.O virtual existe.  Marx  resiste. Bakunin é um  aliado esquizo. A poesia poetiza. Sem tempo, o tempo se angula, se  flexiona, se  dobra, se faz, se  produz.  Uma  alegria  se espraia.

A.M.

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