terça-feira, 1 de janeiro de 2013

DO DIÁRIO DE WILLIAM BURROUGHS

Domingo, 25 de maio.

Todos os governos são erguidos sobre mentiras. Todas as organizações são erguidas sobre mentiras. As mentiras podem ser inofensivas, como a mentira da droga milagrosa, a metadona, que supostamente remove o desejo de heroína (claro, como o gim alivia a necessidade de uísque). 

A droga surgiu em meio a mentiras explicadas a mim por um dos primeiros médicos.

A metadona é a primeira síntese bem-sucedida da molécula de morfina. Em Tânger, tive um hábito de dois anos de metadona injetável que era droga pura.

Quem são os malucos antidrogas? De onde vêm?

Fato: a cannabis é uma das melhores drogas para combater a náusea, aumenta o apetite e o bem-estar. 

Também estimula os centros visuais cerebrais. Já tive tantas imagens ótimas conseguidas com cannabis. Na minha época de saladas, eu usava só ela, e que realizações consegui! (''E que acasalamentos!'', como exclamou um crítico francês admirado.) 

Algumas tragadas na teta verde e consigo enxergar múltiplas saídas e caminhos. Então por que tanta repressão a essa substância inofensiva e prazerosa?

Quem é você, para quem a verdade é tão perigosa? O que é a verdade? Algo imediatamente percebido como sendo a verdade. 

Allen abriu rombos na Grande Mentira, não apenas com sua poesia, mas com sua presença, sua verdade espiritual auto-evidente.

Últimas palavras ''dois a cinco meses, os médicos disseram'', disse Allen, ''mas eu acho que vai ser muito menos''.  

Depois ele me disse: ''Achei que ficaria apavorado, mas estou totalmente feliz!''. Suas últimas palavras a mim. Eu me recordo de falar com ele pelo telefone antes do diagnóstico fatal, e já estava ali em sua voz _distante, fraca. Então eu soube.

Nenhum comentário:

Postar um comentário