domingo, 18 de março de 2012

CAPSOLÂNDIAS

O Caps tende a reproduzir o modelo biomédico autor de tantos equívocos  na história da psiquiatria. Talvez por isso, no momento, praticamente não há avanço. Ao contrário, se as pesquisas sobre o cérebro evoluem, o que há é um retrocesso na percepção da vida afetiva. Ora, falar  em grupos é antes   considerar  a sua vida  afetiva: o desejo  como  foco. Os  grupos  se movimentam   pelo desejo. Ou melhor, o desejo é o próprio movimento, não como espaço a ser percorrido, mas  como intensidade. Desse modo, a pergunta : o que move o trabalho dos Caps? O que move  as  suas equipes  ?  Tentamos  sugerir algumas hipóteses a partir da produção de subjetividade  oriunda da forma-estado. A subjetividade produzida é a da Saúde Mental, uma instituição à serviço do estado. Sendo assim, servir à saúde mental é servir ao estado. Mesmo trabalhando numa empresa privada ou na clínica liberal, os modos  de subjetivação seguem  a forma-estado. Este é um princípio de soberania que se afirma na regulamentação dos códigos  sociais vigentes. O conceito de transtorno mental é tributário das ações do estado que se traduzem como políticas  de saúde mental. Um técnico bem intencionado não basta para um trabalho novo e de qualidade. O  sujeito “bem intencionado” remete às  coisas da  consciência e, portanto, da moral.  Antes de tudo, ele julga.  Desse modo, a equipe técnica é guiada pela moral, mesmo que não o admita, ou sequer perceba. O grupo reproduz o estado interiorizado em subjetividades mansas. Isso não surpreende, ao contrário. O estado “regula” os  fluxos  do capital (*) em prol da superfície do corpo. O grupo é um corpo, um corpo submetido às injunções de não   poder dizer: “somos nós os autores”. Óbvio que não  há uma  autoria empírica.  A  “equipe técnica em saúde mental”  recita os discursos   em que o estado – de modo implícito – comanda.  O estado  é  o Senhor.  A clínica  dos  transtornos mentais é retalhada   por  linhas   Institucionais que a destroem, ou  no mínimo, a desfiguram.  São  fluxos   de poderio invadindo mentes e corpos desautorizados a  desejar. Um grupo se reconhece  num    contexto de dominação consentida.  As  contingências do seu  funcionamento  passam a ser previsíveis.  A equipe técnica  opera   num campo marcado pela hegemonia do estado que é representado pela psiquiatria. Neste sentido, o psiquiatra é o sujeito empírico  das   equipes. Por  que?  Porque     ele  é a Medicina,  o  único  paradigma da saúde mental.  Quem cuida  de  doentes  mentais  é  o psiquiatra.   Deste modo, o grupo trabalha com a transcendência psiquiátrica norteando ações. Pouco importa, por exemplo, se lugares de comando são preenchidos por não-psiquiatras. A subjetividade psiquiátrica  se compõe de linhas existenciais  traduzidas em papéis sociais diversos, a depender do contexto prático (...)

A. M.

2 comentários:

  1. É exatamente isso, meu amigo. Chegaremos a rir um ao outro: tudo não passou de uma grande brincadeira. Chegar ao riso. Riso bergsoniano. Entenda: por mais que esteja ofendido comigo, ou até que não esteja, acabo de te tirar de uma armadilha. A questão é a seguinte: o discurso pouco importa. Claro, o discurso importa, importa enquanto análise, enquanto política. Ele importa. Mas, importa muito mais a ação. Um discurso espírita e humanista, como é o caso do Divaldo Franco, sustenta a Mansão do Caminho, que é uma obra lindíssima, um espaço que presta vários serviços a uma comunidade extremamente carente. Não importa que se baseie na caridade. Importa que se pratique a caridade. Nesse sentido, há uma coerência, mas ela não é matemática ou perfeita. É uma coerência louca. Depois explico melhor. No seu caso, o simples traçar desse caminho que você escolheu já lhe livra de inconsistências. Como se sabe, você podia estar cobrando uma consulta de R$400 e só prescrevendo, prescrevendo. Agora, o pensamento, meu caro, é desejo. Além do desejo, a própria vida emite os sinais. Você precisa ir "além". E, ir "além", neste caso e neste momento de sua vida, passa por uma análise profunda do PAPEL DE PSIQUIATRA. É algo muito sério isso. Uma brincadeira muito séria.

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  2. É porque ficar triste não é sinônimo de fraquejar, nem de ser triste. O caminho é árduo, mas, uma vez escolhido, não tem mais volta. Assim é política. Digo: política desejante. Enquanto a política partidária é recheada de "viradas de folha", aqui, na política desejante, a coisa é séria! Se você escolheu estar do lado do paciente, vá até o fim. No meu caso, pergunte a qualquer paciente que passou lá pela clínica se foi enquadrado, enclausurado em diagnósticos, termos psicanalíticos ou análises teóricas intranscendentes. Podem criticar-me em outros pontos, o que é natural. O terapeuta é para ser criticado mesmo, pois ele é parte do processo e não é intocável. Agora, a liberdade do paciente, meu amigo, é afirmada até o fim. Morro com isso.

    ResponderExcluir