O que é atender?
Atender o paciente é encontrar a loucura. Interessa, pois, ao psiquiatra, sair de si na direção de um campo vivencial movediço, sem garantias prévias, sem receitas ou protocolos técnicos. Sob tais condições, torna-se um feiticeiro. Carrega o seu balaio de conceitos na espreita de mais um encontro em que possa usá-los.
A. M.
O primeiro ponto que toquei foi a relação "pensamento-vida". O pensamento sem ligação com o vivido é uma repetição enfadonha. Não é uma repetição deleuziana. Como exemplo, temos o fato Henry Miller. A escrita de Henry Miller coincidia piamente com a sua "aventura". Tudo bem, alguém trancado num quarto pode ter uma mente fértil, mas não pouco aprisionada. É por isso que devemos ter cuidado com os discursos. Um psiquiatra, por exemplo, por mais sensível que seja, por mais criativo, por mais o que for, inserido em um atendimento ambulatorial, ele não deixará de ser psiquiatra. Não há nenhum paradoxo nisso. Ele É psiquiatra. Não existe "ser-não sendo" ou "não-ser sendo", nessa circunstância, como em outras. Há possibilidades na clínica e no campo de ensino, pois não são práticas EXCLUSIVAMENTE psiquiátricas. Falo de um ponto de vista material, e não abstrato. Em que sentido? No sentido da espacialidade e temporalidade. O psiquiatra pode não gostar, não querer, não desejar prescrever, mas, num CAPS, por exemplo, se ele não preencher as APACS, o dinheiro não será enviado para a manutenção do serviço - dinheiro este que já é pouco. Portanto, não entro numa linha de "vislumbre". Qual linha pegar, então?
ResponderExcluirA linha terrena, a linha terrestre. Arrastar-se no chão, feito cobra. A questão é a seguinte: existe uma rostidade. Essa rostidade é criada por uma afirmação. Percebam o início desse vídeo com o Milton Santos no Roda Vida http://www.youtube.com/watch?v=G9WoAjHEGBc . Conseguem captar? Não há nenhum "vislumbre" pelos títulos e apresentações, pelo fato de ser um acadêmico e, além disso, suas primeiras palavras já mostram a que veio. O discurso não precisa nem ser tão amarrado, embasado, sólido, como o de Foucault, por exemplo. Milton Santos é criticável, mas a densidade da sua rostidade é mais pregnante (para usar um termo da Gestalt), tão pregnante que você não para para analisar pormenores discursivos. Ele está ali. E está ali assumindo uma forma "baconiana", portanto, deformada e desejante. Está ali para dizer. Ou melhor, não está ali para outra coisa senão "falar". No caso de Marina, neste vídeo http://www.youtube.com/watch?v=pYfxRoTKqno , dispensa-se apresentações. Marina está lá para cantar, ainda que a voz não seja a mesma. É uma questão milleriana - qualquer um pode cantar. Basta erguer o coro. Então, não é o caso de falar mais de psiquiatria. Vamos falar de loucura. Em sua rostidade e potência. A psiquiatria já caminha para isso aí que você está vendo, neurociência, fotografias cerebrais, previsibilidade comportamental e mental representativa, medicação, há todo um corpo financeiro aí maior do que todos nós, impulsionando pesquisas e enfatizando o organicismo, controlar os corpos, desejos, enfim, a psiquiatria é isso aí. A psicologia também não foge disso. A questão é que eu já estou Fora. E você, meu amigo? Quando ficará?
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