A psiquiatria cido-biológica costuma ser séria, compenetrada, orgulhosa, arrogante, ciente dos ideais científicos mais caros. No entanto, linhas imprevisíveis da existência insistem em vazar, falar outra coisa, mesmo não falando... Essa "outra coisa" é o sentido, o acontecimento, o inominável. Não é fácil lidar com ele...
Você, meu amigo, não sendo você, não estacionando nos esquemas egóicos do capitalismo religioso e aparentemente vencedor, me inspira, me empurra, me encanta, me diverte...
Antonio
Risos. Não é fácil. Lembra de "Esquinas"? "Só eu sei... só eu sei..." É uma repetição. Uma música sem fim. O tempo faz o corte, mas o seu fim volta ao início ("Na correnteza o amor..."). Não sei exatamente o que sou, embora saiba que esteja em paz com a morte. Há entre mim e a morte uma convivência formidável. Nada melancólico ou mórbido, como muitos podem achar. Na verdade, a morte tem uma elegância ou uma vulgaridade. Nelson Rodrigues escreve a elegância do morto. A vulgaridade passa pelo desastre. O funeral é que é abominável: a tristeza, a posse, a perda. Há pessoas que há milênios não me procuram. Quando souberam que eu "bati na trave", porque desencadeei uma alergia ao iodo no exame de contraste que meus batimentos foram para 37 e a pressão foi pra 17/13, muita gente me ligou para saber como estava. Eu fui cordial, por conta do meu jeito de ser, no qual sequer sei dizer precisamente o que sou, apesar de abominar completamente a atitude. Primeiro que não sou daqueles que pede atenção. Ter me visitado ou não ter me visitado não quer dizer muita coisa. Ter me ligado ou não ter me ligado, pior ainda. Tenho um vínculo com os afetos. É certo que me preocupei com as pessoas que se preocuparam comigo. Pode-se dizer, por exemplo, no caso da moça daqui do prédio, que cozinhou para mim, que se trata de afeto. Há uma produção, entende? Que produção há numa ligação por convenção social? Meu pai me ligou, mas não veio me visitar até hoje. Devo me aborrecer com ele? Jamais. É verdade. Pouco me importa. Já minha mãe, quase invade a sala de cirurgia de tão angustiada. Ora, isso é afeto. Afeto estabanado, é certo, mas não deixa de ser afeto. Não falo de afeto como uma "coisa em si", tampouco como um conceito. Falo de afetos como movimentos corporais que provocam imagens, sensações, emoções, memórias, desejos, aspectos de brilho e contraste, pensamento e movimento, intuição e contágio, rostidades, captações de signos. No seu caso, sua presença faz falta, mas a ausência dela não a descarta. Eu SENTI E SINTO você presente, como meu amigo, um grande amigo, por sinal. Quanto ao que sou ou faço, não me sinto psicólogo, muito menos advogado. Não pretendo responder à pergunta. E, por último, quanto ao Capitalismo, ele terá uma morte vil. Consigo alcançar que ele não se sustentará por muito tempo. Ele passou por sucessivas crises, mas foram elas todas econômicas. Quando os russos tiveram sem pão, não havia Economia ou Sistema certos. A Europa está em recessão e povoada de povos que os europeus sempre rejeitaram, num ideal de pureza irrelevante. Portugal povoado de angolanos. A França povoada de argelinos e outros povos africanos. Os árabes entrando pela Turquia adentro. A fome e a miséria se alastra. Os discursos de solução estão vazios de esperança. Quem acredita mais em que? Talvez não seja no meu tempo, mas o fim do Capitalismo está próximo. Aqui sim revelo meu lado diabólico, pois, se pudesse, seria o primeiro a dar um tiro na cabeça desse Sistema, sem dó.
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