quarta-feira, 27 de julho de 2011

Multiplicidades na clínica

Este é um conceito roubado do  Deleuze. Ao encontrar  um paciente, poderemos vê-lo como multiplicidade. O que isso significa? Significa que o seu corpo não é redutível ao corpo visível produzido pela medicina. Tampouco sua mente é apenas o cérebro. Trata-se de outra realidade, ou, para sermos precisos, de outras realidades compostas por multiplicidades. Não nos referimos à chamada "parte sadia" de um organismo doente, como a psiquiatria já denominou. Referimo-nos a processos de singularização vital que atravessam o corpo e a mente, fazendo com que mesmo um sintoma grave, como o delírio, possua uma consistência, uma materialidade, uma inserção existencial, um território de sentido que serve para viver. Sendo assim, a multiplicidade é o real em si mesmo, e esse real é sempre múltiplo, podendo  ser "sentido" por quem chega perto como um formigamento incessante de ações, deslocamentos, torções para além de uma organização estável como a do corpo esperando pelo exame, ou a de um eu-diretor falando de si.

Antonio Moura - Linhas da diferença em psicopatologia

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