quarta-feira, 20 de julho de 2011

A equipe técnica em saúde mental: nota

Sobre o tema "equipe técnica em saúde mental", é conveniente  se falar em grupo, ou melhor , em dispositivo grupal. A equipe técnica terá que se tornar um dispositivo grupal para poder atuar enquanto equipe. Equipe=grupo=dispositivo grupal = institucional. Esta é uma visão imanente à prática. Evitamos o termo "grupalidade",  pois este nos    remeteria  a uma suposta natureza e/ou essência do grupo. Não há "natureza" nem "essência". Tudo é artifício. A equipe  é, sobretudo, um arranjo de peças heterogêneas (saberes, práticas, conceitos, técnicas, pessoas, etc) que irá atuar sobre o paciente sem esquemas técnicos previamente fixados. O critério primeiro a ser testado (portanto, não está dado) é o da ética. Qual ética a se fazer, a se inventar? As técnicas vêm depois, inclusive o fármaco, principalmente ele.

Antonio Moura

5 comentários:

  1. Por que optar por concurso à frente da clínica? Com certeza não é porque se deve preferir o primeiro. É que a clínica, pelo menos segundo um modo orgânico de concepção, está cada vez mais rara, assim como, por analogia, uma boa educação doméstica, uma escola com visão holística (com "holística", não me refiro à corrente holística), uma prática médica que escute o paciente e não seja meramente protocolar (gerenciada por aparelhos), uma psicologia afirmativa, etc. O mundo caminha como sempre caminhou, mas as práticas humanas caminham para um "nó górdio" do desespero. Niilismo total, se não fosse algumas linhas raras que escapam a tal processo, que eu chamaria de "homogeneização". Processo de homogeneização.

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  2. O que deveria enfrentar, portanto, alguém que queira viver uma "clínica orgânica"? Em primeiro plano, teria que se sustentar na ausência de uma afirmação teórica. Uma clínica "desterritorializada". Não estou dizendo com isso que toda clínica deva ser "deleuziana". Não. Ela não deve ser nada a não ser clínica. Clínica à espera do paciente, com todo instrumental heterogêneo que, não só a Psicologia, mas diversos ramos do saber, oferecem. Em segundo plano, ela deve se guiar por uma espacialidade heterogênea, e não a uniformidade da clínica individual clássica (o divã e o setting da psicanálise, por exemplo). Isto é, a clínica se transforma de acordo com as singularidades, que são sempre coletivas, dentro de espaços móveis, ainda que não se trate de GRUPO. O que quero dizer com isso? Quero dizer que alguém, movido pela percepção clínica e pelo olhar clínico, não deve se escusar nem diante de um indivíduo (fechar-se na clínica de consultório), nem diante de um grupo (alegar impossibilidade de fazer clínica por conta da inaceitação grupal).

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  3. Em terceiro e último lugar, a clínica é um espaço de CONSTRUÇÃO DE TRATAMENTO. Ou seja, é um espaço de CONTRA-PODER, CONTRA-PRODUÇÃO. Opera-se como numa inflexão periódica que, no decorrer do trabalho, vai se dilatando em abertura para o cosmos. Nenhuma viagem nisso. É como se fosse um músculo atrofiado que precisa de fisioterapia para voltar à atividade. Disso decorre dois desdobramentos quase insuportáveis de se conviver nos dias atuais, de mediocridade e crise financeira: 1) não há como alguém se sustentar financeiramente com uma clínica desse tipo. Ou seja, precisa-se de algum tipo de renda estável. 2) é preciso disposição e afirmação suficientes que compensem a frustração financeira e tenha uma raça profunda de enfrentar toda a característica clínica atual, que se move em contrário; isto é, a clínica atual admite uma abordagem fixa que, a pretexto de segurança do terapeuta, enclausura o paciente e limita o olhar clínico do terapeuta, e visa fundamentalmente uma compensação financeira que inibe o Encontro, visto que há um deslocamento da percepção clínica para o contrato. Desvio de olhar e desvio de percepção, creio, são as duas características principais que movem as clínicas atuais.

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  4. Então, não penso em concurso porque AMO, e sim porque é necessário. Tive a experiência de ser empregado dos outros, de ouvir a promessa dos outros e acreditar na palavra dos outros. Sem chance. Concurso, por mais emburrecedor que seja, se pauta na meritocracia. Isso não significa que quem passou é o melhor, pois o sistema de avaliação é precário, mas significa que o seu patrão não é uma pessoa, que pode dizer e desdizer o que quiser, ou lhe demitir sem justar causa ou por simples corte orçamentário. Temos que pensar realisticamente. Os tempos são outros. Tempos em que não há emprego nem para os mais qualificados. Tempos de profundo individualismo. Tempos de ideais escassos. Tempos em que a concorrência é desleal. Tempos em que a desigualdade social se agrava. E, como foi em toda história, os homens tapam o sol com a peneira. As famílias pressionam o indivíduo, cobram dele, mas não movem uma palha para modificar o Sistema. O problema é sempre daquele que não consegue, que vira herói do dia para a noite quando consegue. Viver de clínica, no sentido orgânico que tratei, hoje em dia, é arriscar demais. É quase um suicídio no mais profundo vazio. Ao contrário, ter uma renda estável e investir na clínica, é uma aposta condizente com o real e, ao mesmo tempo, afirmativa.

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  5. A clínica não é uma questão de: "Se não aceitas o que tenho a lhe propor, dane-se, vá procurar outro!"

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