sexta-feira, 15 de julho de 2011

A equipe técnica em saúde mental

É possível  que  os Caps  funcionem sem equipe técnica, mesmo que tenham   uma equipe técnica. A razão é simples. Uma equipe, para ser técnica, tem que ser um grupo.No contexto de uma organização, este grupo  será atravessado por linhas do saber-poder. Significa dizer que 1- as fronteiras entre os saberes estarão dissolvidas em prol das questões da saúde mental. Emergirão saberes híbridos,  formados da junção de uma ou mais teorias, compondo dispositivos teóricos imediatamente clínicos, ações produzindo efeitos sobre o paciente    e redundando em linhas de autonomia subjetiva (social); 2-as identidades técnico-profissionais, alteradas na medida da necessidade dos casos.  Ser médico, ser psicólogo, ser enfermeiro, etc, como papéis-funções passíveis de adequações conforme tarefas a efetivar no projeto terapêutico; 3-as determinações socio-econômicos-político-culturais como elementos constitutivos da própria superfície do trabalho do grupo; 4-o conceito de transtorno mental em permanente suspeição, não como hostilidade mas como ato de produzir discursos e práticas diferenciadas em relação aos saberes instituídos; 5- um processo grupal da equipe no lugar da entidade equipe técnica. 
Nesse sentido, a Clínica em saúde mental está em permanente construção, não só a partir dos sintomas que o paciente traz, mas a partir dos índices que a própria equipe expressa. Uma auto-análise permanente do grupo constitui, assim,  o trabalho. Claro que isso pode ser insuportável para alguns... 

Antonio Moura

Um comentário:

  1. Que são os Caps? Se de um lado há uma questão histórica, envolvendo a Reforma Psiquiátrica e o Hospital Dia, alías, questão essa tratada como única, ao menos atualmente, de outro, há uma questão escusa, tácita e obtusa dos Caps que é definitivamente a sua tendência a não dar certo. É que a Reforma Psiquiátrica tem uma roupagem sedutora, como se o rótulo de "doente mental" fosse completamente aniquilado. Numa outra vertente, não podemos ignorar o aumento do quadro diagnóstico, das diversas categorias que estereotipam o louco, e não somente isso: medicam. A evolução da indústria farmacêutica assumiu proporções, dimensões eloquentes, em paralelo com novas publicações, discursos científicos sobre novas doenças. Quanto ao Hospital-Dia, ele nunca foi uma forma de resistir. Portanto, os Caps têm uma figuração que satisfaz a uma tendência humanista de UM aspecto do problema: o ufanismo da Reforma. Dessa maneira, não atingem a loucura e nem poderiam atingir. Há outra força em questão: o agenciamento operacional dos entes políticos envolvidos - Secretaria de Saúde, Município, gestão, coordenadores, etc. Não sendo prioridades nesse aspecto, mas sendo prioridade em outro, isto é, na Reforma, o Caps fica restrito e preso a uma circunstância da Reforma, que se crê a passagem da condição de doente para a condição de usuário, estabelecendo redes com a comunidade, o PSF e demais instituições. Acredita-se numa inclusão, mas, se podemos falar em algum aspecto disso, devemos, com certeza, falar numa dimensão CLÍNICA. Como se libertar?

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