Concebemos a psiquiatria, antes de tudo, como uma instituição. É desse modo que ela empreende a pesquisa e o exercício da clínica, minorando sofrimentos e ajudando sujeitos a se reorganizarem psiquicamente. Mas é também desse modo que ela desenvolve e exerce práticas de segregação e violência. Por isso não é recomendável substancializá-la como sendo uma coisa, nem considerá-la possuidora de uma "natureza". Ela é, isto sim, processo histórico-social inserido em formações subjetivas concretas.
A. Moura - Linhas da diferença em psicopatologia
Acho importante a leitura dos modos de subjetivação (a relação entre o material e o materializável). Para me fazer claro, faço uso de duas perguntas: 1) O que é o psiquiatra? 2) Quem é o psiquiatra? Quanto à primeira pergunta, o psiquiatra é sim uma coisa, uma coisa produzida, um produto histórico, fundamentado numa relação médico-jurídica. Quanto à segunda, não importa a pessoa do psiquiatra, uma vez que este "ele" (o nome, o profissional, etc.) é um elemento da engrenagem. Para melhorar essa segunda assertiva, uso o meu exemplo do hospital. Passei por uma infinidade de médicos e lhe digo, com toda a sinceridade: nenhum deles tinham opinião pópria, intuições, pensamentos sobre a Medicina, etc. Todos - sem exceção - seguiam um protocolo. NÃO ESTOU ANULANDO AS DIFERENÇAS. Entenda!!! Há diferenças entre eles, de sensibilidade, história de vida, diferenças técnicas também, etc. Estou apenas realçando a homogeneização, campo que envolve outras instituições (psicologia, direito, etc.), e não só a Medicina. Trata-se de um aparato estatal. Depois discutiremos se tudo isso nos leva a um "beco sem saída" ou se há Linhas de Fuga.
ResponderExcluirTive apendicite. Sentia uma dor local, na região do apêndice. Suspeitei de dor muscular e passei gelol. Não passou. Suspeitei de cólica, mas meu intestino funcionou normal. A dor continuou sem passar. Fui ao hospital já sabendo o que era, sem falsa modéstia. Mesmo assim, tive médicos que queriam me dar alta, após o ultra-som, que nada detectou. Eu insisti pelo resultado da espera da tomografia, que era mais precisa. Dito e feito. A tomografia acusou. Ora, não acuso esses médicos que queriam me dar alta de "péssimos profissionais". Eles apenas seguiam a Medicina, como os posteriores. Já houve um tempo em que os procedimentos básicos da Medicina Clínica (como a auscultação, por exemplo) bastavam para instigar a intuição do médico que ia na casa das famílias. Não estou, obviamente, criticando a tecnologia. Estou apenas ressaltando que, tal como é utilizada, segundo as prerrogativas do sistema capitalista, ela "acomoda" o profissional, o que é, porventura, um desejo do Estado (menos custo e maior eficiência). Não pense que o Estado deseja profissionais críticos e atuantes, envolvidos com a vida e as questões médicas fundamentais. Os tempos são outros. Também, não demonizo nosso tempo. Apenas ressalto que estamos vivendo um tempo de banalização geral: tanto no quesito axiológico-valorativo, quanto no quesito profissional. Qual médico quis saber a VERDADE? Eu acho essa última questão de uma sensibilidade fina e essencial. Falo dela em próximos comentários...
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