sábado, 17 de março de 2018

A IMAGEM SOBERANA

Impossível negar: a nível planetário, uma tecnologia da imagem veio para ficar. Ela compõe talvez a face mais concreta das "conquistas"da modernidade. Tudo é imagem. Um universo imagético torna-se a própria subjetividade. Não a entidade-do-eu, não a consciência, não a  racionalidade, mas o processo da subjetivação veloz e incessante que nos afeta e nos constitui. O real é cada dia mais artificial. A sensação subjetiva ("eu existo, eu penso") e a correlata certeza de quem sou, são hoje sustentadas pela realidade da imagem, pela verdade da imagem. Tal verdade, sem que eu perceba, passa a ser a minha verdade, mesmo a mais íntima.  Devastação do pensamento e até do inconsciente representativo (freudiano). Caminhamos, então, para o fim da divisão mundo interno-mundo externo.Nesse ponto, a referência à esquizofrenia é inevitável: há um estilhaçamento da personalidade em prol de uma profunda erosão do sentido. Aniquilamento da linguagem verbal, dissolução de crenças e valores. Convite ao fascismo e demonização da mídia, mesmo nas esquerdas. Um gigantesco buraco ontológico sustenta o reino encantado das imagens: telefone fixo, internet, redes sociais, celular, zap, televisão, cinema, vídeo, videogame, fotografia, etc, tanto faz. Imagens, imagens, tão só imagens devoram tudo, arrastam tudo, significam tudo, inclusive eu escrevendo e você lendo esse artigo agora. No entanto, tal estado de coisas não é um mal em si mesmo. Pois, se somos dominados "por dentro" no mais fundo da interioridade psíquica, algo se anuncia talvez naquilo que Nietzsche chamou de "a transvaloração dos valores". A alma em revolta.

A.M.

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