Bebi todo o meu estoque de cupons e depois vendi os vales do hotel por 50 cents pra outro pé-rapado. Tomei mais 5 chopes e fui embora.
Comecei a caminhar. primeiro pro lado norte. Depois pro leste. Aí de novo pro norte. No fim já andava ao lado dos ferros-velhos, onde tudo quanto era carro estragado ficava empilhado. Uma vez um cara me disse: "Cada noite durmo num carro. Ontem foi num Ford, anteontem num Chevrolet. Hoje vai ser num Cadilac".
Encontrei um portão fechado com corrente, mas a grade tinha sido forçada e eu era suficientemente magro pra passar pela fresta existente entre a corrente e o cadeado. Dei uma olhada lá por dentro até encontrar um Cadilac, não sei de que ano. Entrei no banco traseiro e dormi.
Deviam ser umas 6 da manhã quando acordei com os berros daquele garoto. Tinha cerca de 15 anos e estava com o bastão de beisebol de brinquedo na mão:
-Sai daí! Cai fora do meu carro, seu maloqueiro sujo!
Charles Bukowski - Fabulário geral do delírio cotidiano
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