Escrever é entrar na afirmação da solidão onde o fascínio ameaça. É correr o risco da ausência do tempo, onde reina o eterno recomeço. É passar do Eu ao Ele, de modo que o que me acontece não acontece a ninguém, é anônimo pelo fato de que isso me diz respeito, repete-se numa disseminação infinita.
M. Blanchot - O espaço literário
Esclarecimento:
ResponderExcluirFalei da clínica, e não dos clínicos. A clínica não se confunde com as pessoas que fazem clínica. Hoje mesmo soube de um caso de um casal em que o terapeuta parecia um juiz, não um mediador. Dizia a ela: "você foi permissiva, não devia ter permitido que ele voltasse." Dizia a ele: "você não ama ela, não cabe isso aqui." Sim, eles estavam se separando, brigavam muito, mas ele dizia amá-la. Porém, o terapeuta já havia diagnosticado o relacionamento como patológico e partiu para uma decisão jurisidicional: o fim. Quem tem que decidir o fim é o casal, não o terapeuta, que deveria ser um mediador. Enfim. Não falo disso. Também, não estou fazendo pouco caso das demais especialidades da Psicologia, do psicólogo que trabalha aqui ou ali. A questão foi posta somente em torno de princípio. O Caps precisa da clínica para a clínica. O Caps não precisa de terapia. O princípio no qual parte a Psicologia Hospitalar, por exemplo, é diferente do da Organizacional; mas ambas têm uma árvore em comum, que é o "homo oeconomicus". Segue um tratamento institucionalizado. Não se trata de melhor ou pior, e sim de ordens diferentes no nível do saber. É certo que a clínica também é uma instituição, mas é uma instituição com princípios diferentes, que não seguem um tratamento institucionalizado. A CLÍNICA NÃO É (DIGO: NÃO DEVERIA SER) UM LOCAL DE TRATAMENTO INSTITUCIONALIZADO. Ela é uma instituição de CONSTRUÇÃO DE TRATAMENTO. Vale ressaltar também que esse tratamento não é o tratamento da Medicina. Enquanto instituição, ela passa sim pela técnica médica - entrevista, observação, análise, avaliação, proposta de tratamento (prognóstico). Mas, ela adquire uma vitalidade própria quando opera como um vazio desse objeto, logo, tem uma forma paradoxal. Uma boa anamnese é necessária, mas somente enquanto serve a um vazio do corpo sem órgãos. SABER DO CORPO E CORPO POR SABER, tudo isso em constante comunicação e emissão de signos, e está aí a sua "organicidade", a peculiaridade da clínica. Então, meus caros, a clínica é rara.