CASTIGOS E INDULGÊNCIAS
O Estado ameaça: se você não obedecer, tudo se desorganizará, vão ocorrer catástrofes, advirão a fome, as pessoas e caos, enfim, o medo dos castigos o invadirá, e, de fato, você deve temê-los; se você obedecer, pode ter esperança que as recompensas virão. O temor dos castigos e a esperança das recompensas: são essas as paixões tristes que mais servem aos Estados e às religiões. O Estado determina os prêmios para os submissos e os castigos para os transgressores. Esse mecanismo funciona montado no reconhecimento. Logo, todo homem que está submetido ao reconhecimento, que suplica elogios para viver, é prisioneiro das recompensas e dos castigos. E quão nossa ainda é essa estrutura!
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Luiz A. Fuganti - in Saúde, desejo e pensamento
Caro Fuganti, com todo respeito ao fato dos deleuzianos gostarem de ti, ou até, se for o caso, de você se dizer ou acreditar ser deleuziano, insisto na má colocação do problema, o que seria, ao contrário e paradoxalmente, totalmente anti-deleuziano. Deleuze preza, antes de tudo, pela FILOSOFIA, o que seria a criação dos conceitos, a recriação do pensamento. Nas sociedades tribais, onde não havia propriamente Estado, já havia o sistema de castigos e recompensas a que se sente ameaçado. Agora, se você se sente humano demasiado humano e, por isso, coloca no Estado um elemento propriamente seu, quiçá nosso, devemos discutir outra coisa e não o Estado. O reconhecimento do "semelhante" ou o "império da maioria" não é o Estado, em sentido amplo, e somente pode ter correspondência com o Estado em sentido estrito. Nos dias de hoje, podemos, sim, falar do Estado-burguês, criticá-lo, mas sem culpá-lo pelas nossas projeções e insuficiências. Afinal, o que fez um único chinês senão enfrentar o Estado quando se postou em frente ao tanque? Ora, se você não tem coragem de fazer isso, como eu também não tenho, se assuma.
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