terça-feira, 17 de abril de 2012

A ORDEM

O sistema de ordens é universalmente admitido. Ele se solidificou da maneira mais nítida nos exércitos. Mas muitos outros âmbitos da vida civilizada estão dominados e marcados pela ordem. A morte como ameaça é a moeda do poder. É fácil colocar aqui moeda sobre moeda e acumular grandes capitais. Quem quiser reduzir o poder deve encarar a ordem, frente a frente, sem temor, e encontrar os meios para despojá-la do seu aguilhão.
(...)
E. Canetti - do livro Massa e poder

2 comentários:

  1. Canetti, meu caro, você fala de uma ordem universal, marcadamente sólida. Qual seria a diferença dessa ordem para um processo unitário de globalização ou de um Estado Fascista? Ao contrário, falo de ordem como "ordenações", práticas cotidianas e diárias disciplinadas - remeto a Foucault. Não digo que a ordem é a melhor das soluções; não estou discutindo soluções; sendo assim, não incorro no mesmo erro do Chomsky. A questão é outra. É que a humanidade sempre criou práticas diversas regimentais, sejam práticas de si, governos, práticas pastorais, enfim, muitas outras, ainda que tenham o poder como elo de semelhança, ou uma liderança individual e arcaica. A crítica aqui é outra. CRITICA-SE O FATO DE SE IMBUIR CONTRA O ESTADO, SOMENTE PELO FATO DE SER ESTADO. A humanidade não pode dar um passo maior do que a perna. Não é tempo de discutir soluções, e sim de colocação de problemas. Por hora, tais problemas já implicam intervenções, embora sejam diferentes de soluções. O que é complicado no Brasil é que as coisas começaram errado, permaneceram erradas e continuam erradamente. Aí fica difícil. Fácil é chamar o Estado de Fascista.

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  2. Para deixar bem claro o que quero dizer, acho mais preciso discutir o caráter paranóide da psicanálise, que se liga a um dispositivo estatal com laudos e pareceres, por exemplo, do que A AUSÊNCIA DE ESTADO. No momento, discutir presença ou ausência do Estado é totalmente impreciso. O interessante é que acabo de tocar em um ponto nevrálgico que venho tentando provocar: a associação da Psicopatologia com o Capitalismo. Os devaneios, o delírio, Miguel como um ser metafísico, a Psicopatologia no mundo, o lado didático de professor, etc., etc. tudo isso enriquece e muito o blog, mas, o blog daria um salto no pódio se inserisse elementos da Psicopatologia na realidade nua e crua que vivemos. Ora, é um registro próprio da paranóia a realidade externa como ameaçadora e autorreferenciada. Se o paciente lhe procura para um tratamento, ele já está certo de muitas convicções (para ser redundante). Certo de toda trama. Assim é também o psicanalista, que está certo do Édipo, certo dos mecanismos de defesa, da transferência e de que o paciente irá regredir a algum estágio que viveu com as figuras parentais. O paciente com algum traço paranóide tenderá a JUSTIFICAR a suas próprias razões. Sua presença, ali, é um elemento narcísico dele. Ele se apaixona pela imagem que construiu de você e não quer saber sobre o que você tem a dizer. Da mesma forma, a modalidade de Estado que vivemos hoje, onde a psicanálise é apenas um das práticas legitimadoras, está gerenciada por um modo de subjetivação de desdobramento paranóide. O que seria a burocracia excessiva senão uma agudização desse quadro?

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