segunda-feira, 16 de abril de 2012

DA  PSIQUIATRIZAÇÃO  DO  MUNDO

O psicopata  não só incomoda , mas assusta, mete medo. Ser doente sem ser doente  acaba por desconcertar  a percepção clínica  que  não costuma  ser   a  de uma  psiquiatria  coletiva e
materialista [1].  Ao contrário,  uma  clínica   das multiplicidades    trabalha com  as linhas de vida que o psicopata   não   expõe,  mas vivencia.   Tal postura  nada tem a ver com uma visão otimista do ser humano.   A  História    faz  pensar   o   contrário.     Ainda assim,   o paciente   não  é  julgado.  O trabalho da diferença não é o  de um juiz.  Ele   se   traduz    nas  conexões   ético-políticas    do  Encontro. É   um  movimento     contra   a produção   individualizante   do   tipo anti-social.  Esta   “obedece”   ao figurino psiquiátrico  baseado  num    humanismo   estigmatizador     da   Desordem    e  na detecção de  uma  suposta   essência do    Mal.   É  necessário, pois,   abstrair    a   discussão    clínica  mediante  a   aquisição   de  novos   elementos  conceituais.   Interpelar  a   Medicina,  o  Direito, a Família, o Estado, a Escola, a Mídia, a Religião,  entre outros poderes,  é  operar   sobre o diagnóstico, a etiologia e o tratamento do anti-social num plano coletivo.

Antonio Moura

[1] Psiquiatria coletiva: a que concebe o saber psiquiátrico como não hegemônico,  atravessando e sendo atravessado pelas multiplicidades de saberes sobre a loucura.  Psiquiatria materialista: a que coloca os afetos e os sistemas de crença    do paciente como base para o trabalho clínico.

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