sábado, 28 de abril de 2012

O TRABALHO DA DIFERENÇA


Ora,  um dado que se  constata   ao longo  dos  últimos   quinze  anos   é o  desaparecimento gradual da  psicopatologia  como um saber  ligado aos  processos  subjetivos. No seu lugar um corpo neurológico vem substituindo o “espaço psíquico”, ligando o sintoma a uma causa  ( ou várias)  fisicamente demonstráveis. Esse  viés  mecanicista da  psiquiatria é antigo  e   já  foi apontado muitas  vezes. O que  há de novo é a subsunção da mente pelo cérebro  como chave metodológica   para acessar um  objeto passivo (o próprio  cérebro),  as  avaliações   por imagem (diagnóstico) e as  manipulações  por   remédios  químicos (tratamento). Apesar  disso, não  há  nos   textos    uma  questão  contra as neurociências. Elas, por  certo,   obtiveram  avanços importantes na descrição/compreensão do funcionamento cerebral.  No entanto, o viés  metodológico  neurocerebral   fez a  psiquiatria   “denegar”    processos  coletivos e o mundo psíquico  que  também  constituem a  subjetividade. O que  se obteve , por exemplo, em relação ao tratamento químico das  depressões, não pode ser   desvinculado dos  diagnósticos errados quanto  ao tipo clínico da  depressão. E mais: deixa  de  conceber  a depressão em seus aspectos     múltiplos  e  próprios da nossa  época. Um tronco fértil  da  pesquisa clínica  e  etiológica  é  assim   abandonado...
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

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