O TRABALHO DA DIFERENÇA
Ora, um dado que se
constata ao longo dos
últimos quinze anos é o
desaparecimento gradual da
psicopatologia como um saber ligado aos
processos subjetivos. No seu
lugar um corpo neurológico vem substituindo o “espaço psíquico”, ligando o
sintoma a uma causa ( ou várias) fisicamente demonstráveis. Esse viés
mecanicista da psiquiatria é
antigo e
já foi apontado muitas vezes. O que
há de novo é a subsunção da mente pelo cérebro como chave metodológica para acessar um objeto passivo (o próprio cérebro), as avaliações
por imagem (diagnóstico) e as manipulações
por remédios
químicos (tratamento). Apesar
disso, não há nos
textos uma
questão contra as neurociências. Elas, por
certo, obtiveram
avanços importantes na descrição/compreensão do funcionamento cerebral. No entanto, o viés metodológico neurocerebral fez a psiquiatria “denegar” processos
coletivos e o mundo psíquico que também
constituem a subjetividade. O
que se obteve , por exemplo, em relação
ao tratamento químico das depressões,
não pode ser desvinculado dos diagnósticos errados quanto ao tipo
clínico da depressão. E mais: deixa de
conceber a depressão em seus
aspectos múltiplos
e próprios da nossa época. Um tronco fértil da
pesquisa clínica e etiológica
é assim abandonado...
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
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