segunda-feira, 30 de abril de 2012

O TRABALHO DA DIFERENÇA

 (...) Dessa  perspectiva, o trabalho com o paciente é essencialmente o de  resgatar a capacidade de  criar a  si mesmo e  ao mundo, o  qual  na verdade é ele próprio. Promover  condições  de movimento, não  só  como deslocamento espacial, mas  como devir. Esse é  o campo da  subjetividade  que chamamos de  processo. A psiquiatria  desconhece   o conceito de    “devir”  porque  opera  num universo de  totalidades  identitárias  -  o-portador-de-transtorno-mental,   a doença mental, a esquizofrenia,  o sintoma, a  cura,   etc -  que  é o da     representação. Desse  modo, não há  chance de  se  conceber o devir como instância vital, carnal.   A psicopatologia    desaparece   e no seu   lugar surgem unidades  reificadas  da mente que  respondem  aos  estímulos     acionados. No entanto, o devir é  uma  conexão entre elementos  heterogêneos. O que  está  em jogo  é o movimento, a mudança  e sobretudo, a multiplicidade.  Numa  clínica  do Encontro   isso   expressa   intensidades criativas.  Os  devires entram em cena à medida  em que  a  subjetividade   “egóica”   se   desfaz. Daí, o cérebro, a consciência e  o  eu    passam a fazer parte dos devires e não o contrário. O que  vem primeiro é  o Tempo, a passagem. Em que isso interessa  à psicopatologia, e por extensão, à  clínica  dos  transtornos mentais?
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

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