O TRABALHO DA DIFERENÇA
(...) Dessa perspectiva, o trabalho com o paciente é
essencialmente o de resgatar a
capacidade de criar a si mesmo e
ao mundo, o qual na verdade é ele próprio. Promover condições
de movimento, não só como deslocamento espacial, mas como devir.
Esse é o campo da subjetividade
que chamamos de processo. A psiquiatria desconhece o conceito de “devir”
porque opera num universo de totalidades identitárias - o-portador-de-transtorno-mental, a doença mental, a esquizofrenia, o sintoma, a
cura, etc - que é o
da representação. Desse modo, não há
chance de se conceber o devir como instância vital,
carnal. A psicopatologia desaparece
e no seu lugar surgem
unidades reificadas da mente que respondem
aos estímulos acionados. No entanto, o devir é uma
conexão entre elementos heterogêneos.
O que está em jogo
é o movimento, a mudança e
sobretudo, a multiplicidade. Numa clínica
do Encontro isso expressa
intensidades criativas. Os
devires entram em cena à medida
em que a subjetividade “egóica”
se desfaz. Daí, o cérebro, a
consciência e o eu passam a fazer parte dos devires e não o
contrário. O que vem primeiro é o Tempo, a passagem. Em que isso
interessa à psicopatologia, e por
extensão, à clínica dos
transtornos mentais?
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
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