Quem é louco?
O louco nos chega por mãos variadas. A
sociedade divide seus filhos: sãos e
doentes, ricos e pobres, jovens e velhos, bons e maus, etc. O que
nos chega? Um dualismo
esgotado. Ele finca a verdade
e exala dos poderosos o cheiro
inconfundível das cisternas. Temos que admitir: o poder público amacia os temporais do desejo
inaudito. Todos se levantam quando o assunto é o bem estar dos medianos.
Eles estão em toda a parte. Ah, os medianos... Odeiam a loucura
e a parte que lhes cabe nesse
latifúndio. No entanto, o louco, com sua
conversa diversa, incomoda a ordem, mesmo a que vem das remelas do rei. Fala de outra coisa, coisa simples: aí vem a diferença numa via
indecifrável aos medianos de plantão. Rasga os organismos de pedra. Num Brasil
país de todos, o soldo é o dos
monarcas. A diferença? Ela
dança sobre continentes perdidos. Em cada um dos nós, a mentira se
afirma como a verdade dos tempos que
correm. Parados. O ogro
assume a educação e a violência
banal reparte o pão nosso em obras
vazias. A educação é isso. Um lixo
suavizado em canções pela Brasília dos
sonhos.Voltemos à excreção das partes
ainda não contaminadas. O corpo doTempo arremeda pássaros.O delírio das
populações cede ao uso de neurolépticos. Um
louco refugia-se na normalidade. Ele nos chega por mãos
variadas. Em todas, um só coração deseja manter a aparência de bondade.
A loucura se torna o padrão VISA das transações ok. Que resta?
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
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