domingo, 12 de junho de 2011

Autopsicografia

O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que agora sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem
Não as duas que ele teve,
Mas só as que ele não  tem.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

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