terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

 O TRABALHO DA CLÍNICA 

Estar  com o paciente é entrar  em contato  com os  fluxos  caóticos da  subjetividade. Podemos  chamá-los  de loucura no intuito de borrar  os  limites  entre o patológico  e o não patológico. Por que  isso  é necessário?  É que sob  a  ótica  da  “diferença”, os   conceitos se  interpenetram neste sentido -  “loucura – subjetividade -  transtorno mental” e não  “transtorno mental – subjetividade – loucura” como reza  a concepção   bio-médica. Colocar  a  loucura  como  primado da  condição psicopatológica  implica numa  atitude  de  aceitação incondicional  do paciente como  subjetividade  que  vem de fora, do mundo, do  cosmos,  do universo. A loucura  é o nosso operador  conceitual  na  medida  em que  não se  detém em limites  fixados  pela  idéia  de  razão.   A psicopatologia prescinde  da  razão como  princípio  norteador, usando-a     como  linha molar, endurecida, conforme vimos. A  razão  não  é, pois, um mal  em si. Ela  é  sintetizada   na   produção  desejante   como  um  elemento  a mais. Trata-se de  um agenciamento  de  desejo  .   O trabalho  da  clínica  é  complexo porque  se  relaciona   com a não-clínica, daí  com a  crítica. O conceito de subjetividade do paciente  está ligado diretamente  à  subjetividade   dos  que estão à  sua volta. É neste  sentido  que    a clínica  é  um  sistema  aberto  inserida em  processos institucionais  que  a atravessam  todo   o tempo. Assim, os  processos  subjetivos  são  fragmentários  e fragmentados,  conectando-se com as  linhas  de  um universo  virtual. Isso  não depende  da  orientação teórica  adotada, mas   de   critérios  ético-políticos  inscritos  na  natureza  do  Encontro. Uma  subjetividade a-subjetiva  significa  antes  de tudo que  ela não está  fechada  sobre  si,  ainda que   em   expressões  patológicas   extremas , como  na  catatonia, no autismo, etc. A-subjetivo  implica em se  ver o portador  de transtorno mental como  “portando”  um mundo, este  sim, um   transtorno  não necessariamente  bom ou mau, mas como um Encontro  gerador de  estados  de potência  ou impotência (...)

Antonio Moura

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