BUSCAR O ENCONTRO
A clínica oficial encara o paciente segundo uma consciência e um eu que no primeiro momento são os parâmetros do exame. Tal fato vem implícito no modo de pensar psiquiátrico, habituado a buscar a normalidade. Entenda-se “normalidade” quando o cérebro está funcionando bem, conforme a psiquiatria atual: “cérebro=mente=comportamento=adaptação social”. Assim, a discussão sobre a Consciência existe em função da clínica, o que, em última instância, implica na ação terapêutica a partir do Exame. Como vimos, a pesquisa da consciência se expressa na pergunta mesmo implícita: “Ele está consciente?”. É uma indagação que se impõe no enquadre do exame, ou seja, da propedêutica médica. Pensamos em algo distinto, conforme a ótica do Encontro. Não que o Exame em si mesmo seja incorreto. Ele apenas prioriza os dados de uma corporalidade visível ou visibilizável, buscando imobilizá-la.
(...)
A.M.
Falemos da subjetividade. Para Deleuze, de um modo mais rebuscado do que o Guattari, ela é um movimento do sujeito sobre si mesmo, reinventando-se, decompondo-se e recompondo-se, cujo efeito principal é o "devir-outro". Portanto, o devir não é a subjetividade, mas sua consequência. Fora do ambiente acadêmico, mas como "livre pensador", permita-me discordar. Ora, a própria discordância já implica no fato de que não serei ouvido. O que isso quer dizer? Quer dizer que eu não estou dizendo que o sujeito é incapaz de se reinventar ou que a subjetividade inexiste, mas que, essa força é infinitamente menos poderosa do que a questão institucional na qual ela própria é engendrada. A subjetividade é capaz de reinventar, de criar, só que dentro de limites impostos pelas próprias instituições. Vejamos um exemplo concreto: a sexualidade. Que subjetividade gira em torno desse tema? Múltiplos signos, porém, todos imersos dentro de filmes pornográficos, posições catalogadas no Kama Sutra, brinquedos ou frutas, número de parceiras, etc. Existe um modus operandi da sexualidade, que é a sua própria subjetividade; todavia, a subversão dessa sexualidade também é subjetividade. Entenderam? A subjetividade tem o limite próprio da instituição, porque o foco está nela, no território. O devir-inseto de Kafka é uma deformação do próprio sujeito, operada dentro da relação entre ele, a loucura e o quarto. Ao contrário, OS AFETOS SÃO PRÉ-INSTITUCIONAIS E PÓS-INSTITUCIONAIS. Nesse sentido, O FOCO NOS AFETOS presume que, no caso do exemplo kafkiano, uma barata se acoplou ao Gregor. O elemento do devir não é a barata, como seria em Deleuze. O elemento do devir é o "caixeiro-viajante". A barata é a própria barata, vinda de FORA, que o arrebatou, criando uma nova conformação, nova estrutura corporal. Do mesmo modo, na sexualidade, o elemento do devir não é a pluralidade de formas de experimentar seu corpo em conjugação com outro corpo ou outros corpos. O elemento do devir é a pulsão sexual, que pode se expressar até mesmo numa masturbação, a depender de como o fato gerador da masturbação, externo ao sujeito, o impulsione, o leve a agir, a se tocar e experimentar.
ResponderExcluirO foco é outro:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=_cONVxzcA6U&feature=g-vrec