sexta-feira, 22 de junho de 2012

LOUCURA NÃO-MÉDICA

A saúde não é assunto só da medicina, muito menos a saúde mental. Não é possível   falar de  uma  saúde mental oficial. Não há decreto para o conceito, porque não  há o conceito e  sim conceitos   criados sob contingências sociais e políticas.O conceito  oficial  de  saúde mental é  uma   instituição, modelo abstrato de intervir sobre o outro, o paciente. A saúde mental   deixa  de   ser um processo para se tornar um aparelho. Daí, trabalhar  a  partir  da experiência do paciente, mormente na psicose, requer do técnico  ir “além” desse aparelho. Este não dá conta da complexidade das  crenças e  dos afetos. Usamos a loucura como uma espécie  de  não-conceito,  campo de intensidades fluidas. Ele segue o fluxo dos devires, empurra e isola   a saúde mental para  o campo da repetição serial do  diagnóstico. Enfim,  libera um espaço de  criação  e  redefine o propósito de encontrar o paciente e não o  de examiná-lo.  Sabemos  que  isso   é difícil  pois a  saúde mental opera num regime binário de significação: normais ou doentes. É uma marca de  poder. Conta com dispositivos reducionistas  para chegar ao paciente. Entre  eles, o   exame psíquico. Este enquadra a expressão do outro como doença, patologia,  síndrome, transtorno, tanto faz. Chegar ao paciente não é encontrá-lo.Este pensamento se materializa em práticas de  fabricação e controle de subjetividades individuadas: o louco varrido, o traste. Há  um uso da loucura  como representação da realidade,  e não a própria realidade
(...)
A.M.

Um comentário:

  1. Falemos dos afetos. A começar, não existe o conceito de "afeto", a menos que o submeta à Forma-Academia. O fato de não existir um "conceito de afeto", já o torna diferente do "pensar" e não o engloba no campo do "pensamento". Como foi muito bem dito e explicado, "pensar" é diferente do "pensamento". Pensar pressupõe devires. Sim, o devir pressupõe a subjetividade, reflexamente, visto que é social. Devir-outro, ainda que numa forma estranha e desconhecida, perpassa o corpo social. Portanto, pensar é movimento, dentro do campo das subjetividades, com efeito de devir, compor devires; enquanto o pensamento pressupõe uma forma estática, construída, que também é importante, porém, para o trabalho com o paciente, menos do que o movimento, o pensar, o devir e a subjetividade. Lembre-se: TRABALHAR A SUBJETIVIDADE NÃO É O MESMO QUE TRABALHAR COM A SUBJETIVIDADE. Não trabalho com a subjetividade. Trabalho com afetos. E, para começar a falar sobre os afetos, só para aquecer, ele não se encontra em nenhum desses campos. Afeto não é movimento, não é devir, não é pensar e só tem relação com a subjetividade para desviar-se dela.

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