VIAGENS DE MIGUEL
Miguel conquista o mundo. O mundo são as forças que lhe rodeiam. Falo dos riscos. Mas, que adianta? Seus movimentos excedem... e vão ao encontro do mundo. Mais: fazem de um dia chato um brilho novo.Vivo, ou procuro viver, com a infância que Miguel me traz. Sem culpa ou vergonha, ele faz um mundo de fantasias reais como o de um delirante. A diferença é que Miguel toma a fantasia como seu ser próprio.Fantasia carnal, visceral. Todos acreditam nele porque não acreditam na infância. Cruel paradoxo. Só suportam um ser-criança falando de coisas irreais. Trata-se de uma brincadeira, ora. Vibre, corra, dance. Tudo bem. No fim das contas, o mundo adulto confessa sua estupidez usual. E aí, o que dizer a Miguel nessa linha de vida anárquica e desejante? Meu coração vacila entre viveres múltiplos. Seus afetos atravessam a noite e me fazem singular. A vida apronta séries desconexas. O tempo chega apressado. A manhã arde de desejo.
A.M.
Ontem, estive com Clériston. Ótima conversa. Ele está por dentro dos CAPS. Me fez uma atualização. De tudo o que me disse, basta registrar uma coisa. Ele me disse que os pacientes, mesmo os mais psiquiatrizados, mesmo os mais retorcidos pelas instituições, pela subjetividade de diversas formas culturais, produzem mais do que a equipe. Conseguem inventar alguma coisa. Em suma, a equipe é mais cronificada do que o paciente.
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