sábado, 23 de junho de 2012

O TRABALHO DA DIFERENÇA 

(...) (...)A diferença é o novo, um corte nas  formas  instituídas do  ser-paciente (ou usuário) para  dar  lugar a linhas de vida  dispersas numa multiplicidade.Ora, a psiquiatria está  numa  relação de antinomia com o “novo”  devido aos  seus  compromissos políticos. Uma espécie  de reedição atual do  mito de Sísifo surge na figura do técnico não psiquiatra em saúde mental. O que  fazer  (terapeuticamente)   com o (do)  paciente? Uma  resposta é o  trabalho da diferença. Ele  acontece : na relação do técnico consigo mesmo,  descobrindo-se  como ser  composto e múltiplo; na relação  não hierarquizada do técnico  com o paciente ; no primado da dimensão ético-social  sobre  as  técnicas utilizadas; na  conexão dos  processos  micro-institucionais com as políticas  públicas de saúde mental; na  produção  grupal  da  equipe  técnica voltada  à autonomia e autoanálise organizacional;no questionamento do diagnóstico  psiquiátrico enquanto dispositivo institucional; na busca de uma  conceituação  mais  precisa  de  Saúde  Mental; na  crítica  à  psicofarmacoterapia  como opção  hegemônica  de tratamento;  na  transversalização  dos  saberes  sobre  a loucura materializado em práticas  clínicas;. no cotidiano das  relações pessoais não patológicas; no tempo  decorrido  entre os contatos  técnico-paciente: o entre-tempo;  no tipo de escuta ao discurso considerado delirante; no recorte etiológico a partir do que  é ou não  psicose(diagnóstico).Pontuados  estes  e  outros   temas de  pesquisa,  surgem    eixos  para  intervenções  práticas. Seria  possível  continuar  a  série...  ao infinito.  Ela   expressa  o trabalho da  diferença  em psicopatologia e   se dá   como imediatamente  clínico e crítico.  Neste ponto,  a psicopatologia  torna-se órfã e  adquire  o sentido necessário à composição  dos  artigos.   Ela   se  tece  entre  saberes  heteróclitos,  sendo   regida pela ética  da  potência de criar.   Sem pai  nem mãe,  ídolos,  reis  ou  qualquer  tipo (mesmo disfarçado)  de transcendência,  não se submete aos  poderes dominantes .    Ao contrário,   junta     aliados   não convencionais  e    busca   trair  as   formas instituídas   do saber. 
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria (introdução)

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