sexta-feira, 22 de junho de 2012

SÉRGIO SAMPAIO - Fui internado ontem...

Um comentário:

  1. Os afetos são inexplicáveis. Spinoza fornece um instrumental, mas não uma explicação. Ele seleciona algumas "paixões da alma" (origem da palavra psicopatologia) e faz uma relação com a potência de agir de um corpo, com base na Teoria do Deus-Natureza. Vale dizer, tal teoria quebra completamente com o humanismo. Não é porque você não gosta de festa que você é deprimido. Não é porque você está entediado que você é chato. Não é porque você gosta da noite que você é melancólico. E por aí vai. Não só isso. O Deus-Natureza perpassa a forma das próprias coisas e do corpo social, para integrar-se à vida. O Deus-Natureza é o Deus que está na própria Natureza. Os antropólogos costumam ser bastante spinozistas. Uma tribo primitiva de Papua Nova Guiné tem seus ritos e mitos para espantar maus presságios. A fase mitológica da Grécia também é muito rica, vide o mito de Hades - o ser humano se relacionando com a morte em estágio irracional. Logo, Deus-Natureza não é Deus-Razão. A Bíblia antiga chega a falar que Jesus jogou Hades para arder no Tártaro e libertou todas as almas aprisionadas. É o fim do mito. O nascimento do cristianismo, a reunião da multiplicidade em um só, que, na verdade, é um ladrão das multiplicidades, um déspota, finaliza uma era composta pela riqueza existencial do mito vivido, do mito presente. Mas, o que constitui algo mais próximo do que seria uma "explicação" dos afetos é a Teoria das Emoções de William James. Ainda assim, vale ressaltar, para quem se impressionou com o título, que afetos não são emoções.

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