QUEM SOFRE?
O sofrimento psíquico é considerado um dado implícito no conceito de portador de transtorno psicótico. Daí, talvez seja possível fazer uma analogia deste sofrimento com o sofrimento físico. Conforme o modelo biomédico, o paciente sofre por estar doente. Ou precisa de ajuda por estar fora da realidade, não saber se cuidar, etc. Estar fora da realidade é estar doente. Tal crença vem somada a outra, desta feita compondo o seu drama trágico : ele também faz sofrer os outros, notadamente os que estão mais próximos; os familiares.Problematizando tais sofrimentos teríamos: que afetos compõem o sofrimento do psicótico? Qual a “natureza” de tal sofrimento? A família (e a sociedade) sofrem pelo paciente ou sofrem por si mesmas? O psicótico vive sob um estigma. Ou seja, sendo ele próprio um estigma, carrega sobre si a instituição da doença mental e o que lhe é imanente: a vontade de controlar. Assim, a psiquiatria é atravessada por um objetivo maior e inconfessável: controlar, extinguindo, se possível, o sintoma dos que são diagnosticados como doentes. Numa sociedade de controle como a do século XXI, este ato se inscreve em modos de subjetivação apassivados. O sofrimento psíquico do paciente torna-se tributário de um modelo de pensar que representa a subjetividade como um eu agônico e/ou estranho aos padrões sociais. Apesar da pergunta “o que você sente?” ser obrigatória na propedêutica médica, o interesse maior é detectar os sintomas produtivos( delírios e alucinações) e o que eles implicam como dano às condutas sociais. Incomodam?
(...)
A.M.
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