domingo, 3 de junho de 2012


QUEM SOFRE?

O  sofrimento  psíquico  é  considerado  um   dado  implícito  no conceito de  portador  de   transtorno  psicótico. Daí, talvez  seja possível  fazer  uma analogia deste  sofrimento  com o sofrimento físico. Conforme o modelo  biomédico,  o paciente  sofre por estar  doente. Ou  precisa  de  ajuda  por  estar fora  da  realidade, não  saber  se cuidar, etc. Estar  fora  da  realidade  é  estar  doente. Tal crença  vem somada  a  outra, desta  feita compondo  o seu  drama  trágico  : ele também faz sofrer os outros, notadamente os que estão mais próximos; os familiares.Problematizando  tais sofrimentos teríamos:  que  afetos  compõem o sofrimento do  psicótico? Qual a “natureza”  de  tal sofrimento? A família  (e  a sociedade)  sofrem   pelo paciente  ou sofrem  por  si mesmas? O psicótico  vive  sob    um estigma. Ou seja, sendo ele próprio  um  estigma, carrega  sobre si a  instituição  da   doença mental   e  o que  lhe é  imanente:  a  vontade   de controlar. Assim, a psiquiatria   é atravessada por um  objetivo  maior e inconfessável: controlar,  extinguindo, se possível,  o  sintoma  dos  que  são diagnosticados  como  doentes. Numa  sociedade  de controle como a do século  XXI,   este ato  se  inscreve  em modos  de subjetivação apassivados. O sofrimento  psíquico do  paciente  torna-se   tributário de  um  modelo de pensar  que  representa a  subjetividade como  um eu  agônico e/ou  estranho  aos  padrões sociais. Apesar  da  pergunta “o que você sente?” ser  obrigatória na  propedêutica  médica, o interesse maior  é detectar  os  sintomas produtivos( delírios e alucinações) e o que eles  implicam  como dano   às  condutas  sociais. Incomodam?  
(...)
A.M.

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