RELATO DO ACASO - n° 19
Quem sofre mais? - Aula de Psicologia Médica e Psicopatologia no curso de Medicina da UFBa ; discussão de casos clínicos. A professora era uma psiquiatra. Seu método: entrevistar um paciente da enfermaria psiquiátrica na presença dos alunos. Depois, na ausência do paciente, lia a história do prontuário e fazia comentários clínicos. Os estudantes, de um modo geral, apenas a escutavam. Uma pergunta aqui, outra ali. Certa vez a professora comentou sobre um caso que, segundo ela, era de esquizofrenia. Explicou, então, o que era a esquizofrenia. Daí, surgiu a questão do sofrimento psíquico, já que o paciente denotava certo desinteresse para com o mundo à volta. A professora comparou o esquizofrênico ao neurótico, afirmando que este último sofria muito mais devido à angústia. No caso do esquizofrênico,por estar fora da realidade, sofria menos. Como estudante submetido à linha vertical do ensino autoritário,aceitei o comentário como uma verdade. Só alguns anos mais tarde descobri que o sofrimento esquizofrênico é opaco à razão médica.
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A.M. - do livro Trair a psiquiatria
O que precisa ser dito é que é muito fácil se livrar de pequenos problemas quando você escolhe ou se sente culpado. Normalmente, são os casos de depressão não-endógenas. Deprime-se por diversos motivos, é certo, mais o mais comum é a sua implicação, no que resultou em consequências que você não enxerga. No meu caso, não havia erro. Não explorei pacientes, não briguei com as minhas namoradas nem bati nelas, não proferi um discurso esquerdista enquanto enchia meu bolso, não sacaneei ninguém, não fiz absolutamente nada. Não houve preguiça. As coisas foram acontecendo. Eu simplesmente não era "aceito", fui jogado no "poço dos inaceitos" sem ser propriamente um, talvez para sentir como é estar nessa posição. Só que essa provação foi se tornando demasiado penosa, à medida que meus esforços não me tiravam dela. Até que um dia, dei aquele salto sem corda. Quem viu o filme do Batman, entenderá.
ResponderExcluirNessa horas, você não precisa ter conquistado nada para sair. Basta você ver a luz do dia novamente e você já não é mais o mesmo. Tornou-se outra coisa. Bem mais que um símbolo. Aproximou-se das trevas, da vingança, do ressentimento e do desespero; mas procurou fazer disso sua força e não sucumbiu. Para isso, teve que dar um salto de vida ou morte: o último suspiro.
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