terça-feira, 24 de julho de 2012


RELATOS DO ACASO

Relato  4 – Fugindo  do hospício – Estávamos na  Casa  de  Saúde Ana  Néri, eu  e cerca de  8 alunos do  curso de Psicopatologia  da Faculdade  Ruy Barbosa. Findo    o horário da nossa  visita,  caminhávamos em direção  à saída. Eram muitas  portas  a serem abertas. Da  enfermaria masculina  para  o corredor, deste para outra enfermaria, passando por um pátio, no refeitório, até  alcançar  a  última  porta que dava acesso ao saguão de entrada  do  sanatório. Em todas  essas passagens, eu ficava atento para   evitar  que  algum paciente  “escapulisse” . É que,  enquanto  um  auxiliar  de  enfermagem abria a porta  com a chave mestra, invariavelmente muitos pacientes  se  aproximavam   querendo   sair, gritando  para   ir  embora,  ter  alta, etc.  Cena  típica  do  hospício. Entre os  pacientes  havia  um mais  insistente  que  conseguiu esgueirar-se e escapou  do  nosso  controle.  Estávamos  na penúltima porta  antes  da saída. Ele  saiu  correndo e  quando deparou-se  com a última  porta, por coincidência  alguém  a  abrira  pelo  lado  oposto. Ele aproveitou a  sorte  e continuou a  sua  corrida. Estava  a   cerca  de   três metros  entre  essa porta  e  a  recepção,  e a  um metro  da porta  da  rua. Passou  como uma  bala  pela  recepção e quando todos  esperavam  que  continuasse o pique  rumo à liberdade,   estancou no portal de entrada. Seu  corpo ficou  imóvel, impassível, (catatônico?),  o rosto  expressando   um misto de perplexidade e medo. Foi o lapso  de tempo  suficiente para  ser  recapturado pela  enfermagem.
(...)
A.M.- do livro Trair a psiquiatria


2 comentários:

  1. É que a sociedade o categoriza e oferece algo em troca. Se você é patrão, em troca, ganha mais do que o empregado e pode mandar, sem ser mandado. Se você é portador de necessidade especial, terá vagas de concursos reservadas só para você, assim como o pobre, que estudou numa escola pública. Se você é paciente de um hospital psiquiátrico, você é medicado, mas, pelo menos, você tem leito, comida, algumas companhias e ainda pode ver umas enfermeiras bonitas, quem sabe.

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  2. Podemos dizer que o paciente de hospicio , não passa de um canario belga que voce esquece a porta aberta da gaiola de ouro mas ele não voa e fica palido ao sentir o cheiro da liberdade.
    precisamos ensinar os nossos belgas a se adaptar a psiquiatria nova.

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