RELATOS DO ACASO
Relato 4 – Fugindo do hospício – Estávamos na Casa de Saúde Ana Néri, eu e cerca de 8 alunos do curso de Psicopatologia da Faculdade Ruy Barbosa. Findo o horário da nossa visita, caminhávamos em direção à saída. Eram muitas portas a serem abertas. Da enfermaria masculina para o corredor, deste para outra enfermaria, passando por um pátio, no refeitório, até alcançar a última porta que dava acesso ao saguão de entrada do sanatório. Em todas essas passagens, eu ficava atento para evitar que algum paciente “escapulisse” . É que, enquanto um auxiliar de enfermagem abria a porta com a chave mestra, invariavelmente muitos pacientes se aproximavam querendo sair, gritando para ir embora, ter alta, etc. Cena típica do hospício. Entre os pacientes havia um mais insistente que conseguiu esgueirar-se e escapou do nosso controle. Estávamos na penúltima porta antes da saída. Ele saiu correndo e quando deparou-se com a última porta, por coincidência alguém a abrira pelo lado oposto. Ele aproveitou a sorte e continuou a sua corrida. Estava a cerca de três metros entre essa porta e a recepção, e a um metro da porta da rua. Passou como uma bala pela recepção e quando todos esperavam que continuasse o pique rumo à liberdade, estancou no portal de entrada. Seu corpo ficou imóvel, impassível, (catatônico?), o rosto expressando um misto de perplexidade e medo. Foi o lapso de tempo suficiente para ser recapturado pela enfermagem.
(...)
A.M.- do livro Trair a psiquiatria
É que a sociedade o categoriza e oferece algo em troca. Se você é patrão, em troca, ganha mais do que o empregado e pode mandar, sem ser mandado. Se você é portador de necessidade especial, terá vagas de concursos reservadas só para você, assim como o pobre, que estudou numa escola pública. Se você é paciente de um hospital psiquiátrico, você é medicado, mas, pelo menos, você tem leito, comida, algumas companhias e ainda pode ver umas enfermeiras bonitas, quem sabe.
ResponderExcluirPodemos dizer que o paciente de hospicio , não passa de um canario belga que voce esquece a porta aberta da gaiola de ouro mas ele não voa e fica palido ao sentir o cheiro da liberdade.
ResponderExcluirprecisamos ensinar os nossos belgas a se adaptar a psiquiatria nova.