sexta-feira, 27 de julho de 2012

DEVIRES, DEVIRES

O paciente vive  entristecido pela Grande Máquina. Sua alegria  foi aniquilada  em plena  vigília.  Do nada. Ninguém assume a autoria dos pequenos  crimes. Eles são  administrados em nome da  paz  de espírito. Ora, o espírito  também caga. Avise aos últimos palhaços que a arte foi  solapada em nome do ideal dos homens de branco. Ao que  me consta, nada  mudou no sulco das  bocas. Elas falam rachando dentes. Mastigam auroras nati-mortas. Mas o Rosto carrega  uma expressão justa, como negar? A  bondade natural dos  humanos. Ó Lovecraft,  socorrei! Apenas uma   cidade  respirando um  arco-íris, manda por  favor...  Não falo por  mim. Por  mim, ó... Falo pelo que não sou, falo por devires. Escutai a canção do mundo... Você  dança? O paciente sucumbe à  Ordem.  Por  favor, o senhor pode  me dizer as  horas? Já vai  tarde o tempo dos  mestres, com todo o respeito. Sonâmbulos da própria  dor,como  falar  aos  que  não  falam? A  Grande Máquina é uma  pequena dose de benefícios a curto e médio   prazo. Ela se  insinua na febre dos corredores infectos. Um susto, um sus.  Tudo é  contágio. Resistir à  morte,  querida, e fazer dessa vibração algo novo, será  possível? Talvez um devir-amante imerso em trepadas millerianas. Bicho,  perdoa  o jeito canino:o que é necessário para viver por viver?Pacientes são pacientes demais. Armaduras químicas, lições de casa, manuais de sobrevivência, coisas  simples, eles  são  normais. Eu queria um gosto de sol em você, em suas dores mais  intensas e  irremediáveis. Pena  que  a sombra dos quintais do passado  anuncie sessões de  tortura regadas à dinheiro. A entrega  é às oito.Todos estarão lá, até o  chefe da  Facção Sinistra, aquele mesmo que  começou a seduzir a multidão com truques de  falar  macio. Não tem jeito. Somos  inocentes radicais.

A.M.

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