terça-feira, 31 de julho de 2012


QUESTÕES DIAGNÓSTICAS EM PSICOPATOLOGIA

(...)  (...) Consideramos  histórias clínicas em que as hipóteses diagnósticas  esgotam   as categorias  da CID-10, exceto uma. Desse modo, é freqüente se recorrer  ao  chamado “transtorno da personalidade”  (TP) ou mesmo   ao   que  era   antes   chamado de “personalidade psicopática” ( termo  criado  por  Kraepelin  em 1904 )  como  uma   saída  aos  impasses  da clínica   psicopatológica.  Isso  advém da  dúvida:  será  uma psicose?. A psiquiatria, enquanto sistema nosológico-conceitual ,  não  sabe  definir com precisão  uma psicose.  Tomemos  o exame de um paciente:  de acordo com  a  semiologia ,  não há  delírios, alucinações, nem ruptura com a  realidade; por outro lado,  desvios de conduta, às vezes  graves,  atestam  algum signo  necessário para se  poder dizer afinal   do que se  trata. Descrevendo uma personalidade em seus padrões anormais, incluímos o que ele, o portador, faz no mundo: atos, atitudes,  interações com pessoas, desempenho de papéis sociais, capacidade laboral e outros parâmetros.O paciente, excluídas informações  de  terceiros, se  acha e  se  mostra  mentalmente  são. Em certos casos, é pessoa de  conversa fácil e discurso que  flui  espontâneo. O pensamento se expressa em frases conexas. No mais, segue o percurso das conversações amenas, ditas normais. Em outros casos  até  poderá ficar tenso, a depender do contexto institucional, como, por exemplo,  ser entrevistado  numa  prisão. O essencial a reter desses dados clínicos é que o TP tende a escapar do molde  psiquiátrico. A psiquiatria lhe é estranha, exceto talvez por um ato de força  executado  por ordem do juiz. Diferentemente  da psicose, tal personalidade não vacila diante de  pressões sociais: confesse! Ora, uma Personalidade funciona  num mundo social  cujas   linhas de conduta estão longe de serem retas e programáveis. Desse modo, o diagnóstico deve compor um dispositivo para  avaliação contingencial. O contrário  seria  um  enquadre apenas   técnico ,  o  que equivale  a  prática  do  estigma social   disfarçado  de ciência pura.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria

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