QUESTÕES DIAGNÓSTICAS EM PSICOPATOLOGIA
(...) (...) Consideramos histórias clínicas em que as hipóteses diagnósticas esgotam as categorias da CID-10, exceto uma. Desse modo, é freqüente se recorrer ao chamado “transtorno da personalidade” (TP) ou mesmo ao que era antes chamado de “personalidade psicopática” ( termo criado por Kraepelin em 1904 ) como uma saída aos impasses da clínica psicopatológica. Isso advém da dúvida: será uma psicose?. A psiquiatria, enquanto sistema nosológico-conceitual , não sabe definir com precisão uma psicose. Tomemos o exame de um paciente: de acordo com a semiologia , não há delírios, alucinações, nem ruptura com a realidade; por outro lado, desvios de conduta, às vezes graves, atestam algum signo necessário para se poder dizer afinal do que se trata. Descrevendo uma personalidade em seus padrões anormais, incluímos o que ele, o portador, faz no mundo: atos, atitudes, interações com pessoas, desempenho de papéis sociais, capacidade laboral e outros parâmetros.O paciente, excluídas informações de terceiros, se acha e se mostra mentalmente são. Em certos casos, é pessoa de conversa fácil e discurso que flui espontâneo. O pensamento se expressa em frases conexas. No mais, segue o percurso das conversações amenas, ditas normais. Em outros casos até poderá ficar tenso, a depender do contexto institucional, como, por exemplo, ser entrevistado numa prisão. O essencial a reter desses dados clínicos é que o TP tende a escapar do molde psiquiátrico. A psiquiatria lhe é estranha, exceto talvez por um ato de força executado por ordem do juiz. Diferentemente da psicose, tal personalidade não vacila diante de pressões sociais: confesse! Ora, uma Personalidade funciona num mundo social cujas linhas de conduta estão longe de serem retas e programáveis. Desse modo, o diagnóstico deve compor um dispositivo para avaliação contingencial. O contrário seria um enquadre apenas técnico , o que equivale a prática do estigma social disfarçado de ciência pura.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
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