SUBJETIVIDADE A-SUBJETIVA
O organismo visível, fornece o lastro concreto para uma subjetividade. Contudo, ele é composto por partes infinitamente divisíveis as quais chamamos corpo. O organismo não é o corpo. Este ultrapassa os limites do organismo de onde a medicina extrai a sua mais-valia de prestígio. As linhas singulares inscrevem-se num corpo não imediatamente visível nem tampouco separado do meio por uma linha de fronteira bem demarcada. Elas são antes de tudo micro-potências que impulsionam o funcionamento motor, cognitivo, intelectual, existencial, enfim, tudo que signifique produção incessante de vida. O paciente é composto por elas e são elas que se expressam como devires. Um sintoma é uma linha singular , já que, apesar de ser signo de uma doença cadastrada na CID-10, ao mesmo tempo é expresso como território existencial.”Eu sou meu delírio”, “Eu sou minha tontura”, etc. As linhas singulares estão embutidas e só se mostram ao exame quando as relações com o mundo (o que inclui o próprio eu) acontecem e se firmam como referências de verdade. O paciente diagnosticado pela psiquiatria traça linhas singulares na esteira do diagnóstico e/ou dos signos que remetem a esse diagnóstico. Linhas singulares são modos de ser que se expressam no desempenho de papéis sociais. Sendo assim, o papel social “portador de transtorno mental” acaba sendo um modo de subjetivação exclusivo, capturando linhas singulares e as desfigurando na pessoa do doente.Apesar disso, não queremos colocá-las como o “lado não doente” do paciente.Elas constituem, sim, o paciente, são a materialidade do paciente em termos de processo subjetivo, devir, acontecimento, o que implica numa ótica de outra natureza em relação ao fenômeno da loucura. Mudança de perspectiva sobre a saúde mental . A psiquiatria estanca nesse ponto porque não dispõe de instrumentos conceituais para pensar e fazer a diferença. Nem é esse o seu mister. Além disso, compromissos morais e políticos lhe travam a percepção do Outro.
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A.M.
Mais uma vez, INSISTO NUMA QUESTÃO CONCRETA. Vou demarcar bem a diferença. Nesse sentido de subjetividade que você propõe, "subjetividade a-subjetiva", vou trabalhar com um EXEMPLO. Vamos pensar na INSTITUIÇÃO CASAMENTO. Você está me dizendo o seguinte: "o casamento é uma instituição, com seus quadros, suas regras e representações sociais, mas ele pode ser reinventado, a depender da subjetividade que circula entre o casal." Isso é o que você me diz. E eu digo o seguinte: "não me interessa o casamento, pois ele é uma instituição, com seus quadros, suas regras e representações sociais. Independentemente do casamento, interessa-me como está acontecendo o afeto, isto é, o afeto pode estar completamente FORA do casamento, inclusive, para acabá-lo." Para os que lêem os comentários, atentem para o fato de que são duas propostas de trabalho distintas, apesar de inquietações e pontos parecidos.
ResponderExcluirComplementando, se o casamento diminui sua potência de agir, não tenho porque defendê-lo. Ao contrário, se o casamento aumenta a potência de agir, só o defendo nessa medida. Ou seja, pouco me interessa o casamento. Interessa-me como os sujeitos que participam de uma relação são afetados, MAS NÃO ENQUANTO SUJEITOS, e sim no momento e em circunstâncias espaciais específicas, QUANDO SÃO ARREBATADOS por uma força EXTERIOR, que os retira da SUBJETIVIDADE a qual estavam acostumados a se comunicar, a partir de determinado registro, passível de reinvenção.
ResponderExcluirPor conclusão, a subjetividade pode "reinventar", conforme sua proposta, que está de acordo com a do Guattari e até, se quisermos forçar um pouco a barra, com algumas coisas do Deleuze. Digo isso porque o Deleuze não é para você se FIXAR. O Deleuze sempre escapole. Você fez o recorte de um texto que dá a entender que subjetividade é devir, e subjetividade não é devir. Deleuze é um autor complexo. Pois bem. Então, a subjetividade reinventa, mas não diferencia, uma vez que está IMERSA numa relação socio-institucional. Ela não tem o PODER de diferenciar. EM SENTIDO CONCRETO: para os loucos, há o sanatório, meu amigo.
ResponderExcluirE mais: essa ideia de FIXAR o Deleuze me deu um exemplo bem concreto do que seja essa subjetividade. Na verdade, não foi uma experiência afetiva que lhe trouxe a essa publicação, e sim uma linha subjetiva (ainda que a-subjetiva) subscrita à FORMA-ACADEMIA. O Deleuze-Prova, o Deleuze-Argumento, o Deleuze-Base de convencimento. O que o Deleuze está dizendo tem densidade, respeitabilidade. É isso que você está me dizendo. Foi um excelente exemplo de subjetividade, de como ela circula, de como, seguindo este exemplo acadêmico, o saber serve como instrumento de prova, "referendabilidade", modo de convencimento, e, portanto, linha de poder, modo de subjetivação. Como não se trata de uma relação de afeto, e sim de um substrato institucional, insistir nessa discussão não me interessa, me interessando mais, portanto, o Moura-delirante, o Moura-Miguel, o Moura-escritor. São os afetos que me interessam.
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