sábado, 16 de junho de 2012


SUBJETIVIDADE A-SUBJETIVA

O organismo  visível, fornece o lastro concreto para  uma subjetividade. Contudo, ele é  composto por partes infinitamente  divisíveis as quais   chamamos  corpo. O organismo  não é  o corpo. Este   ultrapassa  os  limites  do  organismo  de onde a medicina extrai a sua  mais-valia  de prestígio. As  linhas singulares inscrevem-se num corpo não  imediatamente  visível nem tampouco separado  do  meio por  uma linha de  fronteira bem demarcada.  Elas   são antes  de tudo   micro-potências que  impulsionam  o funcionamento motor, cognitivo, intelectual, existencial, enfim, tudo que  signifique produção incessante de vida. O paciente é  composto  por  elas  e  são elas  que  se  expressam  como   devires. Um sintoma  é  uma  linha  singular , já que, apesar de  ser    signo de  uma  doença cadastrada  na CID-10, ao mesmo  tempo é  expresso como território  existencial.”Eu sou  meu  delírio”, “Eu sou  minha  tontura”, etc. As linhas  singulares  estão  embutidas e  só se  mostram  ao  exame quando as  relações com o mundo (o que  inclui o próprio  eu) acontecem e se  firmam  como referências  de verdade.  O paciente  diagnosticado pela psiquiatria traça linhas  singulares  na esteira  do diagnóstico  e/ou  dos  signos  que  remetem  a esse  diagnóstico. Linhas  singulares  são  modos  de ser que se expressam  no desempenho de papéis sociais. Sendo assim,  o papel social “portador de transtorno mental” acaba sendo um modo de subjetivação  exclusivo, capturando linhas singulares e as desfigurando na pessoa do  doente.Apesar  disso, não  queremos colocá-las como o “lado não doente” do paciente.Elas  constituem, sim,  o  paciente, são a materialidade  do paciente  em termos  de  processo subjetivo, devir, acontecimento, o que  implica numa  ótica de  outra natureza em relação  ao fenômeno da loucura. Mudança  de perspectiva sobre a  saúde mental . A psiquiatria estanca  nesse  ponto porque  não  dispõe  de instrumentos  conceituais para pensar e fazer a diferença. Nem é esse  o seu  mister. Além  disso,  compromissos morais  e políticos  lhe  travam  a percepção do  Outro.  
(...)
A.M.

4 comentários:

  1. Mais uma vez, INSISTO NUMA QUESTÃO CONCRETA. Vou demarcar bem a diferença. Nesse sentido de subjetividade que você propõe, "subjetividade a-subjetiva", vou trabalhar com um EXEMPLO. Vamos pensar na INSTITUIÇÃO CASAMENTO. Você está me dizendo o seguinte: "o casamento é uma instituição, com seus quadros, suas regras e representações sociais, mas ele pode ser reinventado, a depender da subjetividade que circula entre o casal." Isso é o que você me diz. E eu digo o seguinte: "não me interessa o casamento, pois ele é uma instituição, com seus quadros, suas regras e representações sociais. Independentemente do casamento, interessa-me como está acontecendo o afeto, isto é, o afeto pode estar completamente FORA do casamento, inclusive, para acabá-lo." Para os que lêem os comentários, atentem para o fato de que são duas propostas de trabalho distintas, apesar de inquietações e pontos parecidos.

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  2. Complementando, se o casamento diminui sua potência de agir, não tenho porque defendê-lo. Ao contrário, se o casamento aumenta a potência de agir, só o defendo nessa medida. Ou seja, pouco me interessa o casamento. Interessa-me como os sujeitos que participam de uma relação são afetados, MAS NÃO ENQUANTO SUJEITOS, e sim no momento e em circunstâncias espaciais específicas, QUANDO SÃO ARREBATADOS por uma força EXTERIOR, que os retira da SUBJETIVIDADE a qual estavam acostumados a se comunicar, a partir de determinado registro, passível de reinvenção.

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  3. Por conclusão, a subjetividade pode "reinventar", conforme sua proposta, que está de acordo com a do Guattari e até, se quisermos forçar um pouco a barra, com algumas coisas do Deleuze. Digo isso porque o Deleuze não é para você se FIXAR. O Deleuze sempre escapole. Você fez o recorte de um texto que dá a entender que subjetividade é devir, e subjetividade não é devir. Deleuze é um autor complexo. Pois bem. Então, a subjetividade reinventa, mas não diferencia, uma vez que está IMERSA numa relação socio-institucional. Ela não tem o PODER de diferenciar. EM SENTIDO CONCRETO: para os loucos, há o sanatório, meu amigo.

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  4. E mais: essa ideia de FIXAR o Deleuze me deu um exemplo bem concreto do que seja essa subjetividade. Na verdade, não foi uma experiência afetiva que lhe trouxe a essa publicação, e sim uma linha subjetiva (ainda que a-subjetiva) subscrita à FORMA-ACADEMIA. O Deleuze-Prova, o Deleuze-Argumento, o Deleuze-Base de convencimento. O que o Deleuze está dizendo tem densidade, respeitabilidade. É isso que você está me dizendo. Foi um excelente exemplo de subjetividade, de como ela circula, de como, seguindo este exemplo acadêmico, o saber serve como instrumento de prova, "referendabilidade", modo de convencimento, e, portanto, linha de poder, modo de subjetivação. Como não se trata de uma relação de afeto, e sim de um substrato institucional, insistir nessa discussão não me interessa, me interessando mais, portanto, o Moura-delirante, o Moura-Miguel, o Moura-escritor. São os afetos que me interessam.

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