CONTINUANDO...
P- Parece que você assume uma perspectiva político-institucional. Dialoga com os psiquiatras?
R-Muito difícil, quase sem chance. Os psiquiatras falam do lugar de especialistas médicos. São sobretudo técnicos.
P-Mas, afinal, eles não são especialistas?
R-Óbvio que sim.
P-E então?
R-Aí está o ponto cego da psiquiatria. Não enxergar que é uma instituição antes de ser uma especialidade. Há uma forma de relação social que se consolidou no século XIX na Europa. Chamava-se “psiquiatria” e foi exportada para o resto do mundo. Toda a psicopatologia desse século foi trabalhada com o fim de lhe dar um suporte epistemológico. Até meados do século XX, com os trabalhos de K. Jaspers, esse objetivo continuava sendo buscado. Após o advento dos psicofármacos (1952) e nos anos 90 com as pesquisas neuro-cerebrais, o projeto fracassa. A psiquiatria passa a viver sem a psicopatologia que era por onde se produzia conhecimento. No século XXI ela caminha rapidamente para não ser mais que uma técnica de manipulação de cérebros.
A.M.
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