quarta-feira, 4 de julho de 2012

DO NÃO-EQUILÍBRIO

(...) (...) Todos esses exemplos nos mostram que a seta do tempo tem o papel de criar estruturas. Só podemos falar de "sistema" nas situações de não-equilíbrio. Sem as correlações de longa duração devidas ao não-equilíbrio não haveria vida nem, por mais forte razão, cérebro.
(...)
Ilya Prigogine - do livro As leis do caos

3 comentários:

  1. Entrevista

    - "É só nisso que resume o método?"
    - "Obviamente que não. Não irei explicá-lo por completo em simples comentários. De igual sorte, não existe explicação completa porque não há método completo. Como disse antes, fiz um traçado que partiu de idéias, experimentações, vivências da realidade. É um método que se constrói eternamente, ou melhor, até minha morte. Já trabalhei com a subjetividade, por exemplo; hoje, não mais."
    - "Sim. Você tocou em um ponto nevrálgico. Como é essa questão da subjetividade para você?"
    - "Subjetividade é um conceito importante na Psicologia. Se não me engano, todas as teorias tocam nesse tema. É um ponto de convergência. Como a Psicologia tem seguido um caminho ineficaz, se pensarmos na perspectiva de mundo e não de indivíduo (porque é certo que ela influencia ou muda a vida de alguns indivíduos), é inevitável que se exerça uma crítica sobre ela. Até mesmo as perspectivas mais críticas ignoram o lado mais concreto do conceito. Por mais que se tente reformulá-lo, ele esbarra em muros institucionais, por dois motivos: 1) as instituições criam o sujeito e os sujeitos criam instituições. 2) embora esse processo seja dinâmico, a instituição aparece antes do sujeito, no sentido de que o sujeito, por si mesmo, sem uma forma instituída, não muda a si próprio. Outras questões surgem na temática deste conceito, mas é inevitável que a subjetividade sempre remete a um sujeito."
    - "Curioso o que você está dizendo, porque você vai buscar respostas logo em Deleuze e Bergson, que, de alguma forma, direta ou indiretamente, tratam do tema."
    - "Foi bom você ter tocado neste assunto, porque NÃO BUSCO ESSA RESPOSTA em Bergson ou Deleuze. Entende? Eles não falam só de subjetividade. Falam de muitas outras coisas. Busco neles exatamente o que preciso, tenho um direcionamento."
    - "Mas a sua concepção de afeto passa por este conceito."
    - "Não, em absoluto. Passa por outros autores. Talvez você esteja falando de afetividade, que é um modo de instrumentalização dos afetos, de um conjunto de afetos, vale dizer. Essa concepção de "afeto" que estou retratando passa pelo Spinoza, pelo Spinoza do Deleuze (que já é um diferente) e pela proposta científica do William James, que foi muito bem acatada, na Psicologia, por Jung."

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  2. - "Finalizando o assunto da subjetividade. Como você a trata?"
    - "Como disse inúmeras vezes: NÃO TRABALHO COM A SUBJETIVIDADE, E SIM TRABALHO A SUBJETIVIDADE. Nesse sentido, sou bem concreto e puxo para Foucault, para os modos de subjetivação. Deixo as linhas abstratas para os afetos, que são inexoravelmente abstratos. Mas, no que tange a subjetividade, sou ainda mais concreto: junto-me a concepções do Marx. Trato a subjetividade de um modo exterior, com datas, fatos, acontecimentos, diagnósticos sociais que, por consequência e introjeção, reverberam no sujeito enunciante de um discurso. Mesmo numa mesa de restaurante, sendo crítico, de esquerda na concepção deleuziana, tendo propostas de trabalho inovadoras, recai-se na enunciação de discursos que estão disponíveis na cultura. Não trato isso de uma maneira acusativa. Porém, como psicólogo e pesquisador, incluo essa vivência na aplicação da intuição como método. Neste sentido, desloca-se a questão da enunciação para o problema. Esse é um ponto mais complexo e remete ao desenvolvimento da observação clínica. Só quero dizer mais duas coisas: muita gente tem problema em lidar com a autonomia. Acha que você está sendo pretensioso, arrogante, desprezando formas instituídas, etc. Pensar por si próprio é difícil. Mas, estou garantindo que é o que busco. Nada além disso. Não pretendo NOMEAR as coisas: CLÍNICA DOS AFETOS, por exemplo. Chega de nomes! Tudo é processo. Ainda estou em fase de estudo e exploração de algumas coisas. Quero apreender melhor o conceito de duração para ver se cabe usá-lo. E, por último, a última coisa que eu quero dizer é que eu gostaria sim de maior visibilidade, espaço para me expor, mas de forma livre e irresponsável, ligada ao cotidiano de quem trabalha na área, mais do que uma mesa redonda que comemore o dia da Reforma Psiquiátrica. Não se trata de "discurso bonito". É uma concepção de vida. Faz parte de mim. E só. Não se ofenda por aquilo que não pode dar. Busque o que você pode dar."

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  3. É um pouco nesse sentido que digo: Sócrates deveria ter ficado calado e teria razão. Seu erro foi erguer a razão ao máximo do valor do certo, até o limite do suicídio, para que os outros se sentissem culpados. Por isso é que o cristianismo se refere mais a ele do que ao próprio Cristo. Numa mesa de restaurante ou numa mesa de bar, onde vocês estiverem, escutarão respostas prontas, discursos que estão aí, na cultura, porque ela é imperiosa e determinante para nós. Ora, não se trata de demonizar a subjetividade. Os presos políticos de Guantanamo criaram uma "greve de fome". A subjetividade cria, inventa suas saídas e linhas de fuga; entretanto, É DE OUTRA NATUREZA com relação aos afetos. Os afetos tomam outro rumo. Não é o rumo do POSSÍVEL, como na subjetividade. É o rumo do indeterminado.

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