A CONSCIÊNCIA É UM PROBLEMA
(...) (...) É o plano da matéria. Assim, imagem é igual a matéria. Estendendo a equação: imagem= movimento=matéria=luz. Trata-se de abrir uma outra perspectiva, colocar a subjetividade como descentrada em relação à consciência, ao eu e ao indivíduo. No Encontro, o que se percebe do paciente? Se sairmos do âmbito estreito do exame psíquico e dispositivos correlatos, perceberemos algo que não sabemos o que é, mas intuímos conforme linhas moleculares.A clínica se constituirá, pois, como um campo de imagens. São vibrações, estremecimentos, fluxos de toda ordem não registrados em manuais e protocolos terapêuticos. Corpos em relação contínua, ação e reação uns com os outros. Como nem todos os corpos são visíveis, a realidade do paciente não é acessível pelos meios propedêuticos usuais. Acessá-la é traçar linhas perceptivas não marcadas por clichês. Temos então o problema de uma consciência considerada como produção e não como produto. A consciência não é um “estar aí” a priori mas o efeito de um movimento mais radical e profundo que a ultrapassa e a precede: o caos. Na verdade ela é uma tela. Uma clínica que problematiza a consciência começa pelo caos. Se ela se limitar a reproduzir a consciência, também será uma tela.Ou seja, os problemas reais de uma subjetividade “doente” não serão tocados. O conceito de consciência serve à concepção médica baseada nas estruturas cerebrais. O que não é um erro, e sim um recorte dos processos subjetivos.
(...)
A.M.
Desisto. Se quiser continuar trabalhando com o conceito de subjetividade e acreditando que, a partir dela, é possível acessar o paciente, tudo bem, eu respeito. Só demarco aqui a diferença. Segundo minha leitura, a sua proposta de subjetividade, por mais que você torça e retorça, está de acordo com o Guattari. Nesse sentido, ambos ignoram A RELAÇÃO DE FORÇAS - O PODER. Faça o que fizer da subjetividade, fale o que quiser dela, existem dados muito concretos como limite intrínseco à sua proposta: os modos de subjetivação. Não acho que seja a partir do indivíduo que se dê uma modificação, como uma individuação pelo indivíduo. Creio que é a individuação externa, paralela, própria dela mesma (e não do indivíduo) capaz de ARREBATÁ-LO. Perceba que ARREBATAR não é o mesmo que MODIFICAR. Pelos processos subjetivos, o indivíduo permanece NO MESMO, seguindo modos próprios de comportamento que se diferenciam somente na medida da concordância social - "olha, aqui você pode delirar". Em sentido contrário, o delírio AFETA o indivíduo de FORA, a paixão AFETA o indivíduo de FORA, a raiva AFETA o indivíduo de FORA e assim sucessivamente, aumentando ou diminuindo a potência de agir de um corpo. O delírio não surge como uma forma de individuação que se dá pelo indivíduo, assim como a paixão não surge como uma forma de individuação que se dá pelo indivíduo, nem a raiva surge como uma forma de individuação que se dá pelo indivíduo. Existe uma EXTERNALIDADE do Acontecimento, que é justamento o que lhe caracteriza - a diferença, ele próprio enquanto Acontecimento. E, nesse sentido, apreender os afetos ou apreendê-lo se dá em dois níveis: a) heteroespacialidade. b) a temporalidade do aberto. Com o primeiro, quero enfatizar a pesquisa dos espaços heterogêneos às formas instituídas. Com o segundo, quero enfatizar o tempo não cronológico - como é o caso de Che Guevara que viveu pouco, mas muito mais do que pessoas que hoje têm 80 anos.
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