quarta-feira, 4 de julho de 2012

SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA - EXCERTO  2

(...) (...)O  psiquiatra  se  despersonaliza. Torna-se  algo que  se   torna  outra  coisa.   Vive  nos e  dos   paradoxos  da linguagem que o  empurram a  encontrar o paciente, o  mundo,  o cosmos.  Não  compreende o que se  passa. Perplexo, interroga e interroga-se. Dança   e  entoa  em silêncio  cânticos  extraídos do fundo  de  vielas existenciais.  Não  busca  uma  ontologia  da  psicose  e/ou  dos transtornos  mentais. Ele talvez consiga ser  um  feiticeiro  da  modernidade  técnica, criando linhas de pura alegria (ainda  e  principalmente)  nas  quedas e surtos dos  pacientes  e  de  si  mesmo. O método da diferença  traz essa possibilidade para  o interior  da  clínica. Os fármacos podem (claro  que  sim!)  ser parceiros numa   empreitada   sem signos  prévios.  Use  e  controle  essa  droga  lícita, sabendo que   ela  pode se  tornar  ilícita  se atentar  contra a criatividade  do seu  viver. Não só  a química,  mas  todo  e qualquer  objeto  pode  induzir a uma dependência abjeta. O psiquiatra-feiticeiro  não é esse objeto. O psiquiatra  remedeiro, sim. Este se alimenta  de  subjetividades  enrijecidas, esvaziadas,  ocas,  trastes apelidados de pacientes. É preciso, pois,  um combate incessante contra  a máquina farmacológica. O fármaco é apenas um elemento prático-terapêutico.  Um  devir-feiticeiro  conta  com outros  elementos: a sensibilidade, a intuição, a percepção  do invisível,o  senso de observação,  a  escuta do  silêncio,  a espreita,   todo um conjunto  de dispositivos...
(...)
A.M.

Um comentário:

  1. Entrevista

    - "Eu não entendo você. O que você propõe?"
    - "Um trabalho com os afetos."
    - "O que são afetos?"
    - "Os afetos são linhas pré-emocionais, inomináveis e imperceptíveis, evidenciados, enquanto método, por Spinoza."
    - "Como acessá-los?"
    - "Não há resposta para esta pergunta. É justamente por esse motivo que cabe o trabalho com eles."
    - "Como trabalhar com aquilo que não se acessa?"
    - "É o trabalho com a loucura. É justamente isso. É o desafio diário."
    - "Mas, alguma metodologia você tem que ter, não é? Senão o trabalho fica solto..."
    - "É justamente aqui que entra a intuição como método. Você me fez uma pergunta acadêmica e lamento por ter que dar uma resposta não-acadêmica. Quero dizer, a intuição como método não é exatamente o que o Deleuze diz a partir de Bergson ou o que Bergson diz sobre intuição, embora a leitura desses autores seja imprescindível. A construção parte de como eles me ajudaram a pensar e, para isso, você precisa fazer o método inverso do acadêmico. No método acadêmico, você já tem o problema pronto e diversas pessoas já catalogaram métodos, bastando você escolher dos métodos disponíveis o mais adequado. Nessa perspectiva que proponho, "você precisa saber o que quer" e este "saber o que quer" não é egóico. É uma questão de vida. Antes de responder à pergunta essencial da intuição, que é como colocar um problema, você deve ter em mente um caminho, um traçado, que pode ser abstrato (uma idéia) ou concreto (algo baseado em sua história de vida). Não adianta ficar lendo esses autores sem essa resposta, porque você vai sentir como se estivesse voando em um mar abstrato e de conceitos. Nem adianta olhá-los pela perspectiva acadêmica, senão você nada vai criar. Vai passar a vida tentando entender os conceitos. Às vezes, mesmo não compreendendo algumas coisas muito bem, é uma questão de arriscar a partir do que você viveu, sentiu ou compreendeu."
    - "Continuamos na próxima."
    - "Ok."

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