sexta-feira, 8 de junho de 2012


ENCONTRAR  O   REAL

O Encontro é essencial  para  a  construção da clínica, mas  dela  se  separa como superfície a-significante    num campo  livre  para  experimentações.Constitui-se como um sistema  aberto. Dessa  perspectiva, ir ao  paciente, chegar ao paciente não é chegar à  pessoa do paciente, mas  a  tudo  que  envolve a pessoa, dissolvendo-a em partículas mínimas, até  mesmo  invisíveis. A concepção  transferencial da psicanálise,bem como a da consciência intencional da  fenomenologia  (adotada por  várias  linhas  psicoterápicas), não   dão conta  do encontro como um  “para  além”. Mesmo que teóricamente  falem  de  um bom encontro, essas  concepções sustentam  outra  coisa, atadas que  estão  à dimensão egóica, mental, personalística do paciente.Isso  produz um território afetivo  que   justifica e referenda uma Forma. Cria-se  um circuito  de  realimentação  incessante para que  o terapeuta  cada  vez  mais  acredite  no objeto e  nos objetivos do seu  trabalho. Isto  sem falar  na demanda do Mercado : mais  e mais  psicoterapeutas  para  tamponar  a angústia dos  tempos que correm. Maus encontros que  devem se tornar  bons encontros,  desde  que  obedeçam  às  regras do contrato “ fluxo de sintomas—fluxo  de  palavras---  fluxo de  dinheiro e prestígio”. É então   impossível deixar  de  situar a possibilidade do encontro  no  âmbito das  relações  capitalistas  de  produção, não  só  da vida  material, mas  da  vida  subjetiva.O mundo  em  que  vivemos é o mundo do  capital em todas as modalidades de fetichização  da mercadoria. O eu é  uma  mercadoria  muito  útil para  aquisição  de  novas  mercadorias  num circuito  automatizado  de  trocas: o  homem  médio consumidor  de   ordens  implícitas.Falar “para  além” da  clínica, é, pois, falar  daquilo  que   escapa  aos  axiomas  do  funcionamento  capitalístico.
(...) 
A.M.  

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