quinta-feira, 7 de junho de 2012

O TRABALHO DA DIFERENÇA

A diferença é o novo,  um corte nas  formas  instituídas do  ser-paciente (ou usuário) para  dar  lugar a  linhas  de vida  dispersas numa multiplicidade. Ora,  a psiquiatria está  numa  relação de antinomia  com  o “novo”  devido aos  seus  compromissos políticos. Uma espécie de  reedição atual do  mito de  Sísifo surge  na  figura  do técnico  não psiquiatra   em saúde mental. O que  fazer  (terapeuticamente) com o (do) paciente?.Uma  resposta é o  trabalho da diferença. Ele  acontece : na relação do técnico  consigo mesmo,  descobrindo-se  como ser  composto e múltiplo; na relação  não hierarquizada  do técnico  com o paciente ; no primado da dimensão ético-social  sobre  as  técnicas utilizadas;  na  conexão dos  processos  micro-institucionais com as políticas  públicas  de saúde mental;   na  produção  grupal  da  equipe  técnica voltada  à  autonomia   e autoanálise  organizacional;  no questionamento do diagnóstico  psiquiátrico enquanto dispositivo institucional; na busca  de  uma  conceituação  mais  precisa  de  Saúde  Mental; na  crítica  à  psicofarmacoterapia  como   opção  hegemônica   de tratamento;  na  transversalização  dos  saberes  sobre  a loucura materializado  em práticas  clínicas;. no cotidiano das  relações pessoais não patológicas; no tempo  decorrido  entre os contatos  técnico-paciente: o entre-tempo;  no tipo de escuta  ao  discurso considerado    delirante; no recorte etiológico  a  partir  do que  é ou não  é  psicose (diagnóstico). Pontuados  estes  e  outros   temas de  pesquisa,  surgem    eixos  para  intervenções  práticas. Seria  possível  continuar  a  série...  ao infinito.  Ela   expressa  o trabalho da  diferença  em psicopatologia e se dá   como imediatamente  clínico e crítico. Neste ponto,  a psicopatologia  torna-se órfã e  adquire  o sentido necessário  à  composição  dos  artigos.Ela  se tece  entre  saberes  heteróclitos,  sendo   regida pela  ética da  potência de criar.   Sem pai  nem mãe,  ídolos,  reis  ou  qualquer  tipo (mesmo disfarçado) de transcendência,  não se submete aos  poderes dominantes .    Ao contrário,   junta     aliados   não convencionais e busca  trair  as formas instituídas  do saber. 
(...)
A.M.

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